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Garis demitidos na greve lutam para conseguir empregos de volta

Trabalhador denuncia que aumentou o assédio moral na Comlurb nos últimos 2 anos

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Garis do Rio buscam seus direitos na Justiça, depois de serem demitidos
Garis do Rio buscam seus direitos na Justiça, depois de serem demitidos - Tânia Rêgo/Agência Brasil

Desde 2014, mais de 1.300 trabalhadores da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) foram demitidos depois de participar de greve por reajuste salarial e mais direitos. O levantamento foi feito por uma das lideranças da greve, Célio Viana, um dos demitidos pela empresa.

Segundo Célio, de 50 anos, represálias contra os garis aumentaram muito depois que eles decidiram reivindicar seus direitos. “Em 2014 foram demitidos cerca de 800 empregados da Comlurb e no ano passado mais 500. Eu fui um deles. E não parou, eles continuam demitindo gente”, relata o gari.

Entretanto, muitos deles entraram com processo na Justiça e estão conseguindo seus empregos de volta. Quinze funcionários foram reintegrados aos seus postos de trabalho esse ano. Ainda que modesta, se comparada ao número de empregados demitidos, a decisão judicial de devolver os postos aos garis representam para eles uma vitória importante.

“Isso mostra que a luta vale a pena. E foi na luta que conseguimos reajuste salarial de 37%, décimo quarto salário, horas extras nos domingos e feriados e plano odontológico. Isso nós conquistamos na rua”, afirma Célio.

Descontentes com a falta de assistência do Sindicato dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação (SIEMACO-Rio), os trabalhadores demitidos da Comlurb decidiram conformar outra organização, a Circulo Laranja. A sede fica no bairro do Cachambi, na zona norte do Rio, e realizam debates para discutir as questões ambientais da cidade, mas também prestam assistência jurídica através de coletivos de advogados voluntários.

Mesmo depois de tantas demissões, os garis continuam sofrendo represália, segundo Célio Viana. “Não param de demitir as pessoas que participaram da greve e das mobilizações em 2014 e 2015.

O assédio moral também aumentou absurdamente. Tem centenas de garis adoecendo por causa disso”, conta o trabalhador. 

O gari explica que a greve foi importante para criar consciência sobre os direitos da categoria. “Percebemos que com a luta podemos conquistar muitas coisas. Nós temos que ir para a rua, porque os patrões ainda parecem estar na cultura escravocrata”, aponta Célio.

O Brasil de Fato entrou em contato com a assessoria de imprensa da Comlurb, no dia 27 de julho, mas até o final dessa edição a empresa não havia dado resposta.

Comlurb é condenada a pagar R$67 mil a trabalhador

José Carlos Carvalho de Oliveira trabalhou metade da sua vida como agente administrativo, e aos 64 anos, viu sua vida mudar para pior, quando foi transferido da unidade da Comlurb de Bangu, bairro onde ele mora, para a Quinta da Boa Vista. 

“Para chegar ao trabalho eu tinha que viajar 2 horas de trem lotado, com dor nas costas. Estava muito difícil”, conta José Carlos. Ele foi um dos quatro trabalhadores transferidos pela Comlurb para lugares mais distantes, por participarem da greve.

Mas ele não se conformou, foi buscar seus direitos e contou com a ajuda de Diogo Justino, um advogado trabalhista que pertence a um coletivo de advogados que se voluntariaram a ajudar os empregados da Comlurb que estavam sofrendo represália.

No mês de maio veio a boa notícia. A Comlurb teve que devolver o posto de trabalho em Bangu e pagar uma indenização de 67 mil reais a José Carlos.

A empresa recorreu da decisão e agora o trabalhador espera a decisão final da Justiça.

 

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