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Um gosto amargo na garganta

No caso do goleiro Bruno, não se trata apenas da discussão de ressocialização de ex-detentos

Uberlândia |
Após ser solto, o advogado de defesa alardeou que o seu cliente recebeu nove propostas de trabalho, inclusive de times da série A
Após ser solto, o advogado de defesa alardeou que o seu cliente recebeu nove propostas de trabalho, inclusive de times da série A - Reprodução

No Dia Internacional da Mulher de 2013 ,o goleiro Bruno foi condenado a 22 anos e 3 meses de prisão, em processo que apura o assassinato e ocultação de cadáver de sua companheira, Eliza Samudio, além do sequestro e cárcere privado do próprio filho. E, na semana em que comemoramos a mesma data desse ano, o caso Bruno voltou à tona, através de notícias produzidas por uma imprensa machista, incapaz de mencionar os motivos pelos quais o goleiro foi preso.

Após cumprir menos de 7 anos de sua pena, o goleiro, sob os olhos da cega Justiça brasileira, foi solto, pois o STF considerou excesso de prazo na prisão, visto que o processo ainda está em andamento sem a situação final ser definida. Após ser solto, o advogado de defesa alardeou que o seu cliente recebeu nove propostas de trabalho, inclusive de times da série A.

Não se trata apenas da discussão de ressocialização de ex-detentos. Bruno e qualquer ex-presidiário têm o direito de ser reintegrado à sociedade. Entretanto, os clubes não estão realmente preocupados com essa questão e sim com o marketing gerado e o retorno financeiro às custas do assassinato de uma mulher. Afinal, não fica clara a política de ressocialização desses clubes para outros profissionais que não têm a mesma cobertura da imprensa.

Outro ponto importante a ser destacado é o quanto a carreira de homens condenados ou não por crimes misóginos é dificilmente afetada. O caso Bruno não é exceção. Pastores, políticos, atores, cineastas, exemplos não faltam e deixam evidente o patriarcado, capaz de proteger homens abusadores, estupradores e assassinos.

Bruno, recuperou sua família, vai recuperar seu emprego e luta pela guarda de seu filho na justiça. A família de Eliza não teve o direito de sequer velar pela morte de sua filha e certamente tem o gosto amargo e indignado de injustiça na garganta.

Edição: Wallace Oliveira