Minas Gerais

SEXUALIDADE

Preservativo também é coisa de mulher

Negligenciadas pelas políticas públicas de saúde, lésbicas e bissexuais recorrem a métodos artesanais de prevenção

Belo Horizonte |
A falta de métodos de proteção seguros para o sexo entre mulheres reflete a invisibilidade dessas relações
A falta de métodos de proteção seguros para o sexo entre mulheres reflete a invisibilidade dessas relações - Reprodução

Você já parou para pensar que todos os preservativos, inclusive o feminino, pressupõem que as relações sexuais são baseadas em penetrações? Além de restringir a concepção do que são relações sexuais, a ausência de preservativo para as mulheres é um alarme à saúde. Não existem métodos eficazes de prevenir doenças sexualmente transmissíveis específicos para as mulheres. E, nesse contexto, a saúde de lésbicas e bissexuais fica à mercê de medidas paliativas e cuidados com a higiene. Objetos que foram criados como fetiches em relações sexuais, como os protetores de dedos e de língua, a até mesmo materiais como protetores de gengivas (usados pelos dentistas) e plástico de embalar alimentos são utilizados na busca por proteção. 

“Os métodos de barreira para prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) que existem não são específicos para proteger contra infecções entre relações sexuais de mulheres. O preservativo feminino, por não cobrir os grandes lábios,  não protege de infecções por cândida, trichomonas, clamidia, herpes ou HPV”, alerta Aline Bentes, médica da saúde da família em Belo Horizonte.

A falta de métodos de proteção seguros para o sexo entre mulheres reflete a invisibilidade dessas relações na medicina, na indústria e na sociedade. A estudante Gisele Maia relata que, quando procurou uma unidade de saúde, junto com sua companheira, para buscar informações sobre prevenção, percebeu que nem mesmo os profissionais estavam preparados para lidar com o caso. “ A atendente me disse que a gente tinha que usar preservativo, daí eu expliquei a ela que o preservativo da forma como é não funciona totalmente como um método preventivo e perguntei se havia outras formas de proteção. Ela ignorou minha pergunta e novamente repetiu: ‘use o preservativo”’, relata.

A situação enfrentada por Giselle não deveria ser comum, mas parece constante na relação com os profissionais da saúde. O desconhecimento de ambas as partes provoca também a criação de mitos em relação à vida sexual das mulheres. “A sexualidade das lésbicas e bissexuais é um tema tabu, que não é estudado na faculdade de medicina. Há poucos estudos publicados sobre o tema, o que reforça o mito de que não exista transmissão de infecções sexuais nas relações entre mulheres. O que não é verdade!”, reforça a médica Aline Bentes. “A criação desse mito  perpassa por uma negligência do Estado em relação à saúde e à vida dessas mulheres”, pontua.

A médica indica que todas as  mulheres devem fazer os exames preventivos habitualmente. Ela também reforça a importância de diagnosticar e tratar também as parceiras em caso de infecções.

Algumas dicas de prevenção entre mulheres

- Camisinha: Recomenda-se cortar as duas extremidades para deixar o preservativo em formato adequado ao uso

- Protetores: Durante sexo oral, recomenda-se usar plástico protetor de gengiva ou um filme plástico cobrindo toda a vulva

- Usar luvas ou dedeiras e sempre lavar as mãos antes e depois das relações sexuais 

- Utilizar preservativos masculinos em brinquedos sexuais e trocá-los sempre que houver penetração em orifícios diferentes ou entre as parceiras 

- Manter em dia o exame de rotina Papanicolau

- Vacinar contra HPV

Cuidados com a higiene 

- Manter as unhas limpas e evitar ter relações sexuais após o uso de fio dental, uma vez que o uso do fio pode machucar a gengiva.

- Redobrar os cuidados durante o período de  menstruação das parceiras

Edição: Joana Tavares