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Brasil não precisa de marido, mas de eleições diretas

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O sujeito é um caso grave. Escolhe mal as palavras e os interlocutores
O sujeito é um caso grave. Escolhe mal as palavras e os interlocutores - Alan Santos / PR
Temer precisa de um professor de sociologia

O presidente não eleito Michel Temer conseguiu, de novo, errar em política, economia e ética. Defendeu em entrevista ao apresentador Ratinho – em mais uma armação midiática paga a preço de publicidade pública – as reformas trabalhista e da Previdência. Usou, como sempre, comparações pedestres com seu ar grave e expressão mesoclítica. Para completar, disse que o Brasil precisa de marido.

O sujeito é um caso grave. Escolhe mal as palavras e os interlocutores. No momento em que pesa sobre ele a mais alta rejeição a um político no país, decide se abrir com Ratinho, como se fosse um atalho para a popularidade. Não é um acaso. O apresentador ficou conhecido por tratar mal as pessoas, ameaçar com um cassetete e fazer testes de DNA, como forma científica de fundamentar sua ânsia de humilhação.

A afirmação preconceituosa do golpista durante a entrevista reafirma o machismo renitente, já demonstrado na formação de seu governo e em declarações estúpidas sobre o papel da mulher. Por trás de sua atitude, como diriam os psicanalistas, surge uma espécie de formação reativa. Ou seja, uma defesa inconsciente que, para se proteger de uma fraqueza pressentida ou ameaçadora da autoestima, manifesta desejos inconfessos. Quem precisa de marido, de acordo com seus próprios termos, é Temer.

Tudo que o preconceito mais tacanho define como papel do marido numa relação tradicional, parece atender às necessidades mais prementes de Michel neste momento de sua vida. Ele está só. Não se sente amado, não é protegido, não consegue respeito e reclama da falta de um provedor. Crê que o autoritarismo é a melhor expressão da autoridade.

Há um equívoco terrível na fala do usurpador, pela incompreensão do papel exercido pelas mulheres na formação brasileira, como chefes de família competentes e lutadoras. Sem maridos para atrapalhar. Mas aí seria pedir demais. Além de marido, Temer parece precisar de um professor de sociologia. Não é o pior, no entanto.

O que é mais grave na defesa marital da economia doméstica – com a repetida ladainha de que não se pode gastar mais do que se arrecada – é seu sentido reacionário. A opção pela austeridade é apenas mais uma falsa imagem das escolhas financistas do governo, que vem aprofundando a crise, aumentando o desemprego e destruindo as políticas sociais.

O presidente não eleito não tem sido um marido, mas um encosto. A saída é o divórcio ou a eleição direta. O que dá no mesmo. Pena que não existe uma Lei Maria da Penha para os crimes contra a nação. 

 

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