Minas Gerais

SHOPPINGS VAZIOS

Dois meses depois: onde estão os camelôs de Belo Horizonte?

Ambulantes afirmam que política municipal de enviá-los a shoppings populares não deu certo

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Em julho, ambulantes organizaram vários protestos no centro da capital mineira
Em julho, ambulantes organizaram vários protestos no centro da capital mineira - Mídia Ninja

Uma volta dentro do Shopping Uai Centro e é possível ver uma cena crítica. A grande maioria das bancas montadas para receber os camelôs está absolutamente vazia. Das 1.547 bancas nos shoppings populares Uai Centro e Uai Venda Nova, apenas 280 estão ocupadas, segundo a “chamada” realizada periodicamente pela administração. Ou seja, 18% de ocupação.

A percepção é ainda mais dramática quando se conversa com os camelôs. “Não vendi nada desde que cheguei”, dizem, completando que não ganham nem o suficiente para as passagens de ônibus e para o lanche. “Está pingando cliente. Um aqui, um ali, às vezes nada. O máximo que consigo levar para casa é uns R$ 30 num dia”, conta o ambulante Ricardo Correia. 

Os camelôs se mantêm no shopping na esperança de conseguirem um “box” para montar seus negócios. A Prefeitura promete realocá-los com base no Projeto de Lei 309 de Operação Urbana Simplificada, aprovado pela Câmara Municipal em 16 de agosto, e que prevê a parceria entre PBH e shoppings privados para que os aluguéis sejam baixos.

Em contrapartida, os empresários recebem autorização para aumentarem andares em seus prédios. O contrato entre ambulantes e os Shoppings Populares Uai é de 120 dias e termina em meados de novembro.

Rua ainda é melhor opção

Enquanto uns resistem dentro de shoppings, outros resistem à fiscalização nas ruas. Centenas de camelôs voltaram a expor seus produtos no centro da cidade. Muitos montam a banca “na tora” e outros estão acompanhados de pessoas portadoras de deficiência física, que são autorizadas a continuar comercializando na rua de acordo com a Lei Municipal 10.947.

A ambulante Viviane Cristina, entrevistada pelo Brasil de Fato MG à época da expulsão dos camelôs, voltou a trabalhar no mesmo local depois de um mês. “O meu nome nem saiu no sorteio do shopping. Não arranjei emprego e tenho filho pequeno para cuidar. Meu sustento eu tiro daqui”, explica. Para esses camelôs, a prefeitura continua com a fiscalização, a apreensão de mercadoria e multa no valor de R$ 1.902,65 para quem for pego em situação irregular.

Entenda

Em 3 de julho, a Prefeitura deu início à expulsão de mais de mil camelôs do Centro. Durante três dias os ambulantes protestaram, mas o prefeito Alexandre Kalil (PHS) manteve a operação e sorteou 1.547 bancas. Apenas 300 ambulantes aderiram aos shoppings populares.
 

Edição: Joana Tavares