Rádio

3° Maior reservatório de água da RMBH corre risco de ser extinto

Com 500 nascentes, a Vargem das Flores chega a abastecer 10% dos municípios localizados ao redor da capital mineira

Belo Horizonte |

Ouça o áudio:

Prefeitura de Contagem propõe que o local deixe de ser uma área rural e se transforme em uma área urbana
Prefeitura de Contagem propõe que o local deixe de ser uma área rural e se transforme em uma área urbana - Divulgação

Terceiro maior reservatório de água da região metropolitana de BH pode secar. Prefeitura de Contagem quer transformar em urbana área rural responsável por preservar nascentes.


"Um santuário de riquezas naturais / O que será da nossa flora, pra onde vão os animais? / Muitas nascentes com certeza vão secar / Se não preservar agora, não teremos água mais". 

Esses versos fazem parte de uma música composta por ativistas e cidadãos que se mobilizam em prol do terceiro maior reservatório de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte, conhecido como Vargem das Flores. O local é uma bacia hidrográfica e uma Área de Proteção Ambiental, e fica na divisa dos municípios de Contagem e Betim. A área corre o risco de acabar por causa de alterações no Plano Diretor de Contagem.
A proposta do atual prefeito do município, Alex de Freitas, do PSDB, sugere que a área deixe de ser uma área rural e se torne uma área urbana, com instalação de indústrias e empreendimentos imobiliários de grande porte. Moradores contrários ao projeto defendem que as mudanças podem destruir as matas responsáveis pela manutenção das águas das nascentes, o que poderia causar a seca do reservatório e a destruição das plantas e da fauna da região. 
A nova medida foi proposta em julho, no Conselho Metropolitano da RMBH, e não foi aprovada pois sofreu muitos protestos da população. No momento, ela segue em debate. Quem explica melhor é a deputada estadual e ex-prefeita de Contagem, Marília Campos. 

"Na região, temos dois tipos de captação de água. Ou pegamos diretamente dos rios ou então pelos reservatórios, que funcionam como uma reserva, o que é a Vargem das Flores. A primeira forma não está sendo suficiente porque já estamos há muitos dias sem chuvas, com os rios secos. Ou seja, o abastecimento já está prejudicado. Funcionamos agora com apenas 40% da capacidade. Se comprometermos os reservatórios, iremos vivenciar uma crise hídrica terrível"

Com 500 nascentes, a Vargem das Flores chega a abastecer 10% dos municípios localizados ao redor da capital mineira, atendendo a quase 500 mil pessoas, além de interferir diretamente na vida daqueles que moram perto das águas. É o caso de Cristina Campos, professora de história que mora há mais de 50 anos em Contagem e há 24 tem uma chácara nas proximidades do reservatório. Ela conta que contagenses e visitantes, principalmente os de baixa renda, costumam utilizar a área para lazer. Lá acontecem cavalgadas, trilhas de bicicleta, caminhadas entre outras atividades. Para a docente, a beleza natural e as variadas espécies de animais poderiam fazer do turismo uma importante ferramenta para geração de emprego e renda.


“Outra questão é que a prefeitura quer levar os bairros pra lá. Se for ocupar toda a região dessa forma, é possível adensar 900 mil pessoas. Ou seja, nossa população vai dobrar. Consequentemente, as redes de saúde, de educação e de transporte também têm que ser dobradas. Aumentam as pessoas e diminui a água. Os impactos não serão sentidos agora, não serão contornados pelo prefeito de hoje, mas no futuro alguém vai ter que dar a resposta, corrigir erros”

A Prefeitura de Contagem, por meio do Diretor do Departamento de Controle Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade, informou que as discussões para transformar a área da represa teriam surgido a partir de queixas da população, que estaria insatisfeita com a fragilidade da fiscalização da zona rural – realizada pelo Incra e o Instituto Estadual de Florestas. A administração alega também que discutiu com os moradores possíveis formas de ocupação dessas áreas, e que sugeriu empresas com “baixo índice de impacto ambiental” de “desenvolvimento sustentável”. Ainda sem data para ser analisado, o projeto deve passar pelo Conselho Municipal de Contagem e pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais. 

Edição: Minas Gerais