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Zé Pinto: “É por amor a essa pátria Brasil que a gente segue em fileira”

Cantador e militante do MST, Zé Pinto fala sobre feira que acontece em outubro em BH

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Zé Pinto: “O agronegócio tem uma proposta satânica, de encher a produção de venenos”
Zé Pinto: “O agronegócio tem uma proposta satânica, de encher a produção de venenos” - Larissa Costa

Autor dos famosos versos “Esse é o nosso país, essa é a nossa bandeira. É por amor a essa pátria, Brasil, que a gente segue em fileira”, Zé Pinto é um mineiro que vive em Rondônia. Militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), apaixonado pela agroecologia e cantador popular, ele fala nesta entrevista sobre os 20 anos da canção “Ordem e progresso” e da marcha que deu origem a ela.

Ele também convida os belo-horizontinos para a etapa estadual do Circuito Mineiro de Arte e Cultura da Reforma Agrária, que acontece na capital de 6 a 8 de outubro. Iniciado no dia 2 de setembro, o circuito já percorreu diversas cidades, como Governador Valadares, Montes Claros e Alfenas. Em Belo Horizonte, vai acontecer na Serraria Souza Pinto, no centro, com feira de produtos e apresentações artísticas.

Brasil de Fato - Como tem sido a recepção do circuito e qual a expectativa para Belo Horizonte?

Zé Pinto – Estou muito feliz de estar na minha terrinha de novo para cumprir uma tarefa como essa. Foi muito bom o circuito nos municípios onde participei. Começou em Valadares, passou por Montes Claros e Alfenas, e a receptividade foi sempre maravilhosa. Há muitos artistas compreendendo esse projeto do MST, essa iniciativa. Isso tende a render muito. Estamos aguardando acontecer na Zona da Mata. Como aconteceu nos municípios, a questão da feira, com produtos da roça, sem venenos, ajuda a conscientizar as pessoas da importância da pequena agricultura para a população brasileira. O agronegócio tem uma proposta satânica, de encher a produção de venenos, de concentrar hectares e mais hectares de terra nas mãos de uns poucos, e produz para exportar, com monocultura. É tudo de negativo. E os pequenos agricultores estão aí tentando levar outro projeto para frente. O MST está querendo trazer para as cidades os alimentos, fazer essa troca com a população da cidade. Aqui vai ser muito bonito, vai vir gente de muitas regiões, produtos de muitos lugares. E vai vir a arte também, com várias programações: teatro, música, de tudo um pouco. Vai ser muito bom mesmo.

Você é o autor de uma música que ficou conhecida no Brasil, virou quase um hino, “Ordem e progresso”. Qual foi o contexto em que você compôs essa letra?

Essa música nasceu na marcha nacional [Marcha Nacional por Emprego, Justiça e Reforma Agrária], que foi uma coisa espetacular. [Na ocasião, 100 mil pessoas receberam os sem-terra, que foram marchando até Brasília, no dia 17 de abril de 1997, quando completou um ano do massacre de Eldorado dos Carajás]. A gente foi cantando a música na marcha. Fui escrevendo a música durante o trajeto e chegamos a Brasília cantando. Agora o povo canta isso não só no Brasil, mas mundo afora. A ideia da letra era essa: vamos em marcha. Trabalha essa realidade, que o povo está de cabeça erguida. A história da luta não morreu, como alguns querem convencer a gente. O povo segue em marcha e a música segue essa proposta. “É por amor a essa pátria Brasil que a gente segue em fileira”, como diz um trecho. A música retrata isso: o povo luta porque ama a pátria. Infelizmente às vezes vem a repressão e bate nas pessoas que estão querendo uma coisa melhor pra todos.

A música e a marcha estão fazendo 20 anos. Como você vê a resistência da luta e da arte no contexto atual?

Esse golpe é um negócio muito descarado. Porque a sociedade sempre sofreu golpes, mas este agora é na cara. A gente não precisa nem detalhar isso. É incrível como isso pode acontecer em pleno século 21. Mas estou feliz, porque há muitas organizações dispostas a lutar, há muita gente investindo também em agroecologia, temos muitas experiências. No caso dos alimentos, a gente vê que quando oferecemos comida saudável o povo vem, compra, cobra por mais, que devia ter mais feiras. O pessoal cobra e quer. Ninguém gosta de coisa que não presta.

Edição: Frederico Santana