Minas Gerais

Cenário nebuloso

Artigo | O lugar dos servidores da Fazenda no enfrentamento à crise

Minas é a unidade da federação que mais perde com a Lei Kandir

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Encontro discutiu os impactos das perdas fiscais provocadas pela lei Kandir nas finanças de Belo Horizonte
Encontro discutiu os impactos das perdas fiscais provocadas pela lei Kandir nas finanças de Belo Horizonte - Manoel Marques/Imprensa MG

A grave crise econômica, fiscal e política que se instalou no país desestabilizou um setor de trabalho considerado há décadas como um dos mais seguros no Brasil: o funcionalismo público. Sem dinheiro e mergulhados em dívidas, estados da federação parcelam e atrasam os salários dos funcionários. Trabalhadores de outras áreas, por sua vez, quando não se encontram fora do mercado, esbarram em condições de trabalho cada vez mais precárias. 

É injustificável que, neste cenário, pautas como a do “acerto de contas”, proposta pelo governo mineiro, não estejam entre os assuntos mais urgentes, capazes de colaborar com a reversão da situação de crise. Pelas contas do estado, Minas Gerais deixou de arrecadar R$ 135 bilhões nos 20 anos de vigência da Lei Kandir. Se a dívida com o governo federal é de R$ 88 bilhões, é nítido que não há o que pagar, mas sim a receber. E mais, não só ao estado interessa esse acerto, afinal 25% do valor que a União deve a Minas pertence aos municípios.

Minas não pode continuar vítima da sangria imposta pelos benefícios fiscais concedidos pela Lei Kandir. Diante da decisão do Supremo Tribunal Federal, que reconheceu a omissão do Congresso Nacional e estabeleceu prazo de 12 meses para que este defina os critérios de ressarcimento aos Estados exportadores, os deputados e senadores têm, em curto espaço de tempo, a oportunidade e a responsabilidade de solucionar esse problema, aprovando o substitutivo do relator deputado José Priante (PMDB/PA) e contribuindo para que os estados voltem a crescer. Minas é, desde sempre, a unidade da federação que mais perde com a Lei. 

Servidores da Fazenda, representados por suas entidades de classe, como a Associação dos Funcionários Fiscais de Minas Gerais, têm se empenhado e contribuído efetivamente na preservação da integridade da receita tributária, na recuperação dos créditos devidos e no combate à sonegação. Com salários parcelados, igual à maioria dos setores do Poder Executivo, desde maio deste ano os auditores fiscais passaram a conviver também com o fantasma dos atrasos no pagamento, o que tem resultado em corte de despesas essenciais e inadimplência.

Nos seus quase 68 anos, a Affemg se manteve em equilíbrio financeiro, com receitas e despesas rigorosamente abertas aos seus associados. A entidade já testemunhou momentos de crises graves, mas o atual é particularmente desafiador. Neste sentido, é imprescindível manter um bom direcionamento. A experiência mostra que a superação desse quadro requer a cooperação de todos: Estado, sociedade e instituições. O apoio ao estreitamento das relações interpessoais e à integração de equipes, iniciativas oportunas nesta época do ano, se reflete no fortalecimento do espírito colaborativo de classe e, por consequência, num maior engajamento dos servidores e na melhor prestação de serviço ao cidadão.

*Sinval Pereira da Silva é diretor-presidente da AFFEMG

Edição: Joana Tavares