Educação

Vagas aumentam nas Umeis de Belo Horizonte (MG), mas atendimento diminui

Prefeitura quer implementar novos horários de funcionamento em 2018, mas pais e professores protestam contra alterações

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
“Com essa propaganda de aumento de vagas, o que estão fazendo é ‘despir um santo para vestir outro’”, diz diretora
“Com essa propaganda de aumento de vagas, o que estão fazendo é ‘despir um santo para vestir outro’”, diz diretora - Divino Advincula

As mudanças que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) anunciou para as Unidades Municipais de Educação Infantil (Umeis) da capital não foram bem recebidas pelas famílias e trabalhadores da educação.

Neste mês, o município decidiu que, a partir de 2018, as crianças de 0 a 2 anos não poderão mais ser matriculadas em horário integral, mas apenas em horário parcial. Além disso, o horário de funcionamento das instituições terá menos 30 minutos em cada turno.

Ou seja, todas as crianças que hoje são atendidas entre 7h e 17h30, serão atendidas até às 17h. E os pais dos menores (de 0 a 2 anos), deverão escolher o período da manhã (de 7h30 às 11h30) ou o da tarde (de 13h às 17h). Apenas as unidades localizadas em áreas de maior vulnerabilidade social não sofrerão alterações, como informou a prefeitura em comunicado.

A medida acarreta no aumento das vagas da educação infantil, mas pessoas contrárias às modificações alertam para os problemas da redução no atendimento.

É o caso de Nina Buzinari Lauca, mãe de duas meninas – uma de 3 anos e outra de 1. Ela conseguiu manter o horário integral apenas para a filha mais nova, mas terá que readequar a vida e o trabalho para cuidar da mais velha em casa. "Eu só consegui o meu emprego porque elas estavam matriculadas em horário integral. Agora, com minha filha só uma parte do dia na escola, eu e meu marido não temos noção do que fazer. A gente já reveza o que pode, e vamos ter que pedir ajuda para os avós, já que não temos condição de pagar um lugar ou uma pessoa para olhá-la", diz.

Nina explica que, na sua rotina, não precisava se preocupar nem com o café da manhã das meninas, já que elas iam direto para o refeitório da Umei. De lá, elas chegavam com a janta e de banho tomado. "Também não existe a menor chance de colocar minha filha em alguma creche municipal. Ela tem síndrome de down e precisa de um atendimento de qualidade. No bairro, eu não conheço nenhuma creche que tenha estrutura adaptada para atender uma criança com deficiência igual a Umei tem", declara.

Mais despesas

Outra mãe, Renata Karine Lacerda, já vivia a realidade de ver seu filho matriculado em horário parcial neste ano. A criança estuda na Umei Paraíso, à tarde, e no horário da manhã tem uma cuidadora, que é paga pela família. A redução de 30 minutos no horário é o que mais preocupa a mãe no momento. "Eu sou professora, começo a trabalhar às 7h e saio às 17h para conseguir pegar meu filho 17h30. Agora que ele vai ser liberado às 17h, não sei o fazer. Vou ter que pagar escolar e achar outra pessoa para recebê-lo em casa, porque não posso sair mais cedo do serviço", relata a educadora, que também não sabe como aumentar a renda para dar conta das novas demandas.

Profissionais insatisfeitos

Segundo Jacinta Braga, uma das diretoras do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sind-Rede), o que mais vai impactar a categoria é a redução do número de profissionais nas Umeis. Se em cada unidade existem três professores trabalhando atualmente, com a diminuição de horário, serão dois. "Gera excedência. Assim, o professor terá que ser encaminhado para outra unidade que ele não escolheu, muitas vezes distante da sua moradia", explica. Ela afirma, ainda, que a PBH tem o objetivo de economizar nos gastos públicos, mas que poderia escolher maneiras menos invasivas. “Tem que aumentar a verba, fazer mais escolas. Mas, com essa propaganda de aumento de vagas, o que estão fazendo é ‘despir um santo para vestir outro’”, opina a diretora.

Mobilizações estão sendo preparadas em protesto contra as definições do prefeito Alexandre Kalil (PHS). A ideia é chegar em um entendimento com a administração do município e, para isso, pais e profissionais se reúnem em grupos de WhatsApp para definir as reivindicações. Os servidores da educação levantaram, inclusive, a possibilidade de greve. “Não houve diálogo algum com a gente, pelo contrário. O que nos parece é que são determinações já muito fechadas. Queremos respostas, flexibilidade”, ressalta Renata.

Edição: Joana Tavares