CULTURA POPULAR

Festejo no Sul de Minas resgata a história dos Reis Magos

Folia de Reis reúne moradores e fiéis em Santana de Caldas

Brasil de Fato | Santana de Caldas (MG) |
Em geral, a festa da Folia é organizada por um festeiro que fez algum pedido aos três reis santos e teve sua graça atendida
Em geral, a festa da Folia é organizada por um festeiro que fez algum pedido aos três reis santos e teve sua graça atendida - Fotos: Sandra Ribeiro

Com cerca de 1300 habitantes, o pequeno distrito de Santana de Caldas, situado no município de Caldas, no Sul de Minas Gerais, se parece com tantas outras localidades rurais dessa região. A paisagem - formada por pastos, pequenas lavouras e alguns resquícios de Mata Atlântica - não apresenta muitas variações para quem percorre a rodovia MG 459 em direção a Poços de Caldas.

Santana de Caldas, contudo, possui um tesouro cultural que a torna singular: a centenária tradição da Folia de Reis. Todo ano, entre o Natal e o dia de Reis, 6 de janeiro, foliões de várias cidades se reúnem no distrito para relembrar a viagem dos três reis magos em busca do menino Jesus.

No último dia 30 de dezembro, a Companhia de Reis Estrela do Oriente iniciou seu giro pela comunidade com uma grande festa no centro comunitário do distrito. Divididos em duas comitivas, os foliões visitaram mais de 150 lares em oito dias, levando mensagens de paz e alegria, tanto na cidade quanto nas roças.

Seu Lázaro Honorato, um dos mestres da Folia, conta que aprendeu a cantar aos 8 anos. “Aprendi com meu pai. É uma tradição muito importante pra nós, só vai morrer o dia em que eu morrer. Enquanto a gente existir, vamos fazer isso com o maior prazer, o maior amor e o maior carinho”, promete.

O mestre da Folia é responsável por improvisar os versos de acordo com os pedidos e as ofertas recebidas pela Companhia. Perguntado sobre a inspiração para compor os versos, Seu Lázaro não titubeia. “Isso é um dom do nosso pai do céu”, afirma.

Tiãozinho, outro folião da Companhia, explica a emoção sentida por quem recebe os cantadores em casa. “As pessoas se emocionam porque, quando é uma inspiração divina, toca o coração das pessoas. Até o da gente mesmo. Quando a gente tá cantando, às vezes tem que segurar pra não embargar a voz. É bonito”, conta.

Em geral, a festa da Folia é organizada por um festeiro que fez algum pedido aos três reis santos e teve sua graça atendida. Tiãozinho afirma que conhece várias pessoas que fizeram promessa e receberam algo.

“Muita gente recebeu graça, até mesmo cura, justamente por causa da interseção dos três reis santos. Tem o próprio caso do festeiro deste ano. A menina caçula dele pegou veneno de rato e ele pediu a interseção dos três reis santos e, por isso, ele está oferecendo esta folia. Deus livrou ela da morte”, diz Tiãozinho.

O ritual

A Folia de Reis representa a viagem dos três reis magos que, ao avistarem a estrela do Oriente, souberam em sonho que ela os guiaria até a manjedoura onde havia nascido o menino Jesus. No caminho até Belém, receberam a solidariedade das famílias, que os acolheram de casa em casa. Em Jerusalém, a estrela se apagou para despistar o rei Herodes, que havia mandado matar todas as crianças nascidas na região. Ao saírem da cidade, a estrela se acendeu novamente e guiou os reis até o local onde havia nascido Jesus.

Nelson Garcia, Seu Nelsinho como é conhecido, embaixador da Folia, não se cansa de explicar. “Essa é a história que a gente faz, seguindo com a Companhia de casa em casa, representando os Três Reis que estão caminhando a procura do menino Jesus. E hoje nós estamos aqui, com se estivéssemos pertinho de Belém, onde nós vamos fazer a chegada”, conta.

A chegada aconteceu no dia 6 de janeiro, o Dia de Reis. Uma grande festa em Santana de Caldas, com fartura de comidas para toda a comunidade e os centenas de visitantes que vieram acompanhar.

Após passarem pelos cinco arcos montados no grande salão, guiados pela estrela, os foliões chegaram ao presépio e rezaram um terço, agradecendo aos festeiros, a todas as pessoas que abriram suas casas, e às ofertas recebidas. Foi feita também uma homenagem especial a Sebastião Teixeira de Freitas, conhecido como Bastião Honorato, importante mestre da Folia de Santana, falecido em outubro de 2017.

Edição: Joana Tavares