Minas Gerais

Adoecimento

Saúde dos Atingidos pela barragem em Mariana

29% das pessoas estão com sintomas de depressão e em 16,4% delas foi identificado o risco de suicídio

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Cidade de Bento Rodrigues após tragédia
Cidade de Bento Rodrigues após tragédia - Brasil de Fato

A Cáritas Regional de Minas Gerais desenvolve o projeto de Assessoria Técnica aos atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão da Samarco. A equipe, multidisciplinar, oferece apoio técnico aos atingidos das comunidades pertencentes ao município de Mariana desde novembro de 2016.

Diante do rompimento da barragem de Fundão, em 5 de novembro de 2015, as famílias foram atingidas de diversas formas. Os impactos físicos e materiais aparecem com maior visibilidade, contudo o impacto também alcança a dimensão simbólica dos sujeitos, seja pelas marcas da experiência traumática vivenciada no momento do rompimento, seja pela violência cotidiana concretizada na morosidade do processo de reparação, indefinição de prazos e negação de direitos por parte das empresas.

Tendo em vista que o adoecimento não se caracteriza apenas a partir de condições biológicas, mas está fortemente vinculado as condições sociais, faz-se necessário a atenção com a saúde das famílias atingidas. Neste contexto, a Assessoria Técnica da Cáritas e a Comissão dos Atingidos propuseram a realização de uma pesquisa sobre a saúde mental das famílias. A Pesquisa sobre a Realidade de Saúde Mental em Mariana (PRISMMA) foi realizada pelo Grupo de Pesquisa em Vulnerabilidade e Saúde (NAVeS) da UFMG. A Pesquisa entrevistou 271 pessoas atingidas, sendo 83% de adultos e 17% de acrianças e adolescentes, das diferentes comunidades.

Dados estarrecedores

Com relação aos adultos, destaca-se que 72,9% precisou sair do local onde estava com urgência, 69,3% consideraram que houve ameaça direta à sua própria vida, 46,7% ressaltaram que perderam familiares ou amigos após o rompimento e 79,6% relataram que sofreram danos diretos à sua moradia por rejeitos da barragem. Um dado preocupante revela que 62,7% relatam ter sofrido descriminação pela condição de ser atingido. No que diz respeito à saúde mental, 29% das pessoas estão com sintomas de depressão, índice cinco vezes maior do que a média brasileira, e 12% das pessoas estão com sintomas de estresse pós-traumático. O risco de suicídio foi identificado em 16,4% dos entrevistados.

Os dados levantados sobre as crianças e adolescentes demonstram que 95,7% dos entrevistados estão frequentando a escola, dos quais 37% já foram reprovados em algum ano escolar e 52,9% foram reprovados nos últimos dois anos, ou seja, após o rompimento da barragem. Merece destaque os altos índices de adoecimento psíquico, haja vista que 82,9% dos entrevistados apresentavam indícios de transtorno de estresse pós-traumático, 39% estão com sintomas de depressão e 39% demonstraram sintomas de transtorno de ansiedade.

A Pesquisa revelou dados preocupantes sobre a saúde das famílias atingidas, após dois anos e cinco meses do rompimento da barragem de Fundão. Ela coloca em pauta o contexto de adoecimento das famílias atingidas, apontando a necessidade da construção de estratégias multidisciplinares que promovam a superação desta realidade.

*Cecília Ribeiro é psicóloga da equipe Psicossocial da Assessoria Técnica da Cáritas  e Gladston Figueiredo é coordenador operacional da Assessoria Técnica da Cáritas

Edição: Joana Tavares