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Crimes

Artigo | Os gritos que a torcida não ouve

O esporte é apenas mais um espaço onde, de tempos em tempos, vemos novas denúncias de abusos sexuais acontecerem

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Na infância, a campeã olímpica Simone Biles sofreu abuso sexual do médico Larry Nassar
Na infância, a campeã olímpica Simone Biles sofreu abuso sexual do médico Larry Nassar - Fernando Frazão/Agência Brasil

Que lembranças você tem da sua infância? É a escola? Os amigos? As brincadeiras de rua? Lembrar desses momentos é algo muito especial, mas não para todos! Muitas crianças e adolescentes convivem ou conviveram com um problema que apaga qualquer memória feliz dessa fase da vida: o abuso e a exploração sexual.

No dia 18 de maio, foi realizada a Campanha de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data simboliza a importância da mobilização contra a violência sexual sofrida por tantos jovens e traz um alerta preocupante para o Brasil. Segundo o balanço de denúncias recebidas pelo Disque 100, mais de 175 mil casos de exploração sexual de crianças e adolescentes foram relatados entre 2012 a 2016. Isso representa quatro casos por hora.

Qualquer lugar pode ser propício para que este crime aconteça. Na maioria das vezes, inclusive, o pedófilo é alguém conhecido. O esporte, por exemplo, é apenas mais um espaço onde, de tempos em tempos, vemos novas denúncias acontecerem. O caso mais recente ocorreu na Ginástica Artística. O ex-técnico da seleção brasileira, Fernando de Carvalho Lopes, foi acusado de molestar mais de 40 crianças entre os anos de 1999 e 2016.

Antes disso, em 2008, a nadadora olímpica Joana Maranhão também denunciou abusos sofridos pelo seu então treinador, quando ela tinha 9 anos. Uma dor que, segundo a atleta, jamais é esquecida.

Os casos se repetem. No Brasil e outros países, como os Estados Unidos, onde o médico Larry Nassar foi condenado a 175 anos de prisão por molestar ginastas da seleção americana, entre elas, as campeãs olímpicas Simone Biles e Gabby Douglas.

Diante de tantos casos cruéis, a pergunta que fica é: o que sobra? O que sobra dos sonhos de alguém que sofre uma violência desse tipo? E mais triste ainda: onde está a sensibilidade das pessoas de enxergarem esses crimes acontecendo? O silêncio é o que nos torna mais impotentes.

No esporte, vale ressaltar que os abusos normalmente acontecem nas dependências dos locais de treinamento. Ninguém vê? Ninguém ouve? Ninguém tem nada a dizer? É importante que todos estejam mobilizados contra os abusos que crianças e adolescentes sofrem diariamente. As entidades desportivas, sejam elas clubes, comitês ou comissões técnicas, devem prevenir e adotar medidas que coíbam e combatam esses crimes. Além de alegrias e vitórias, o esporte é um grande incentivador de bons exemplos e não o contrário.

E que as famílias estejam mais próximas de suas crianças e adolescentes. Sempre! Muitas vezes elas não vão gritar, mas as atitudes, o comportamento e os medos de quem passa por um abuso sexual falam por si sós. Cabe a nós saber ouvir essas vozes.

Edição: Wallace Oliveira