Minas Gerais

Luta

Artigo | O Caminho do Sertão

Gente que resiste com delicadeza e beleza

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Trajeto da caminhada pelo sertão de Minas Gerais
Trajeto da caminhada pelo sertão de Minas Gerais - Ágatha Azevedo

Me lembro que, quando ouvi o Almir Paraka, idealizador d’O Caminho do Sertão, contar do sonho de fazer uma caminhada no mais árido sertão, revivendo as andanças de Riobaldo no livro “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, tudo parecia impossível. Mas, em 2017, o projeto chegou à sua quarta edição, da qual participei. Este ano o projeto levará mais de 50 caminhantes para recorrer os 186 quilômetros, da Vila de Sagarana, em Arinos, à Chapada Gaúcha, no Noroeste de Minas Gerais, entre 7 e 15 de julho.
Da experiência da caminhada, ficam lembranças das histórias de luta e reflexões que só o tempo longe da tecnologia proporcionam. Sertão é terra de caliandra, de gente que, como a flor do sertão, resiste ao ambiente inóspito com delicadeza e beleza. Nos rostos do povo, se vem de sol, castigo e alento. Mas também se vê a saúde de quem não consome produtos industrializados e planta o próprio alimento. Gente que planta, benze e luta para manter tradições.
O sertão é também sol. A chuva é visitante ocasional. Nessa terra estão os donos do agronegócio que fizeram do município de Buritis o terceiro maior exportador de soja do estado. Hoje, se veem hectares e mais hectares de monocultura. O que é ter terra se falta água para o plantio?
Há quem diga, num estereótipo errôneo, que não dá para plantar no sertão. Provavelmente, os mesmos que grilaram o primeiro hectare de terra, descumprindo a legislação brasileira e atentando contra a função social que a terra deveria ter. Na contramão da exploração dos recursos naturais pelo capital, está a agrofloresta da família de Tico, em Buraquinhos, e diversas outras iniciativas que são visitadas durante a caminhada. 
Para participar do projeto, basta se inscrever nos editais divulgados na página Caminhos do Sertão.

Ágatha Azevedo é jornalista e atua nos Jornalistas Livres e no MST 

Edição: Joana Tavares