Minas Gerais

Vergonha

Coluna Bafafá | O triste rumo do Roda Viva

Entrevistadores cumpriam papel de inquisidores, demonstrando como andam as compreensões da mídia comercial

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Programa do último dia 25 recebeu a pré-candidata à presidência da República, Manuela D'Ávila, do PCdoB
Programa do último dia 25 recebeu a pré-candidata à presidência da República, Manuela D'Ávila, do PCdoB - Foto: Reprodução

Duvido muito que quem assistiu ao Roda Viva, da TV Cultura, no último dia 25 de junho, que entrevistou a pré-candidata à presidência da República, Manuela D’Àvila, não tenha ficado no mínimo incomodado com o desrespeito e o baixo nível do programa. O programa de entrevistas - outrora respeitado - no ar da TV deu mais um passo para a sua irrelevância e decadência, mostrando a sua atual incapacidade de oferecer um debate amplo, diverso e construtivo para a audiência. 
Quem estava na bancada de entrevistadores - a maioria jornalistas -  cumpria mais o papel de inquisidor do que o de alguém realmente interessado em conhecer as ideias e projetos da convidada para o país. Perguntas recheadas de clichês, lugares comuns, preconceitos e equívocos sobre a História, que demonstram muito como andam as compreensões da nossa imprensa comercial, sem falar na incapacidade de ouvir as respostas das próprias perguntas. Vale lembrar que entre os entrevistadores convidados pelo programa, estava um eleitor confesso de Bolsonaro, Frederico D’Ávila, que não fazia perguntas, mas sim provocações, dando opiniões como as de que o fascismo era de esquerda e a castração química como solução para o estupro. 
Estima-se que, numa entrevista de 70 minutos, Manuela D’Ávila foi interrompida 62 vezes, sendo que outros convidados homens, como Ciro Gomes, foi interrompido 8 vezes e Guilherme Boulos, 12. E isso tem um nome: manterrupting - a interrupção desnecessária enquanto uma mulher está falando. Esse é um tipo de recurso machista que visa frear ou atrapalhar a comunicação, o raciocínio e argumentos de mulheres e desmerecer as suas falas. Traduzindo: é mais um tipo de violência da qual mulheres são vítimas cotidianamente. E o programa foi exemplar nisso.
Triste ver um dos poucos programas da TV aberta, com a tradição que tem, tomar esse rumo. Infelizmente, é o caminho trilhado por parte da imprensa e mídia brasileira: o da radicalização no extremo do não-debate, da não-divergência, da mediocridade e da não-democracia. 
Mas deixo uma boa dica. Nós mineiros temos uma opção nas noites de segunda-feira. A Rede Minas exibe um ótimo programa de entrevistas: o Voz Ativa. Dá uma conferida lá. Com certeza você irá se surpreender. 
Um abraço!

Edição: Joana Tavares