"Você já pensou que pode ser uma pessoa privilegiada desde que nasceu?” É a partir dessa pergunta que a escritora Alanna Fernandes, de Uberlândia, apresenta o seu livro de estreia, o “Incômodo Cotidiano”.
Com poesia, a autora fala do que está no dia a dia, do que está ali, aqui e lá. Do que está o tempo todo, mesmo que muita gente insista em negar: a desigualdade, a violência, o racismo, a exploração, o moralismo.
A provocação inicial instaura um clima de análise de si, do exterior que nos cerca e faz olhar para o outro. A conclusão a que cada um chega provavelmente depende do lugar que ocupa no mundo, mas uma vez na posição de se questionar, é difícil voltar atrás. “Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar”, diria Chico Science.
A publicação parece agir como uma espécie de denúncia, porém, é um grito individual, e também coletivo, nunca nos deixando esquecer que fazemos parte de um povo, uma classe. Que a empatia é importante e que existe luta. Que nem tudo é natural, que existem outros projetos de mundo e vários tipos de existência possíveis.
A poesia de Alanna também vem em foto. O livro é todo ilustrado com a obra fotográfica da artista. Elas não só complementam, elas falam. Mostram a rotina da vida, às vezes mais ardida que serena. Mostram a ação do Estado sobre nós, sempre presente, mesmo que ora sutil, ora escandalosa.
Mas não se engane, Alanna fala do que está ali, aqui e lá. Ela fala de resistência. E a resistência está em cada pedra de cada ladeira erguida por torturados em cidades históricas, em cada estrada construída por explorados em capitais.
Ela fala do que está o tempo todo: do feminismo, da emancipação, do amor, do Nordeste, da batalha, da esperança por democracia, de não se acomodar. A resistência é cotidiana.
Edição: Joana Tavares
