Minas Gerais

Opinião

Artigo | Bem aventurados os eleitores sem raiva

A raiva reduz a capacidade de raciocínio e impede decisões esclarecidas

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
"O problema não é votar ou não votar em fulano. É tratar questões conjunturais com calma e racionalidade"
"O problema não é votar ou não votar em fulano. É tratar questões conjunturais com calma e racionalidade" - Foto: Reprodução

Em 1988, depositei meu primeiro voto na urna. Faz 30 anos. Participei na coleta de assinaturas para emendas de iniciativa popular para a Constituinte. Naquelas primeiras eleições, depois de promulgada a Constituição Cidadã, em meu primeiro período de direito e envolvido com o movimento estudantil, eu estava esperançoso. 
Tinha visto as Diretas Já, a morte de Tancredo e a comoção que ocasionou. Naquele ano, a pessoa em quem votei para vereadora foi eleita. O partido dela elegeu quase um terço do total vereadores para a Câmara de BH. Era animador. 
No ano seguinte, o aprofundamento nas atividades político-estudantis impulsionou minha participação na campanha presidencial, com grande frustração ao ver Collor eleito. Houve encolerização geral. Não se discutiam argumentos, era uma raiva ensurdecedora. 
Eleito nesse contexto, houve nova frustração. E, alguns anos depois, retornou a alegria ao ver o impeachment. É isso! Vota-se com raiva, vem o arrependimento e o impeachment. 
Na transição, o Plano Real e a repercussão da foto do presidente Itamar ao lado de uma modelo no Carnaval... Conversar sobre política no Brasil nunca é um exame racional dos fatos e discursos. Tudo é encolerizado. O debate raivoso atrasa o avanço da democracia. O problema não é votar ou não votar em fulano. É tratar questões conjunturais com calma e racionalidade. 
A raiva reduz a capacidade de raciocínio e impede que as pessoas tomem decisões esclarecidas para o pleito eleitoral. Por isso, afastar a raiva e estabelecer critérios de análise dos fenômenos sociais permitirão um exame criterioso dos discursos e comportamentos dos candidatos. Afastando equívocos. 
Meu critério é o católico, onde o principal meio de análise é o discurso contido no Sermão da Montanha. Com ele, é fácil discernir o candidato que fale de amor permanente ao próximo, de fazer justiça social (bem aventurados os que têm fome e sede de justiça), e que tenha propostas para atender as necessidades das multidões. Porque foi nessa ocasião em que Jesus multiplicou os pães e peixes para alimentar milhares de pessoas e assim fazer uma escolha lúcida. 
*Wagner Dias Ferreira é advogado e integra a Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG.

Edição: Elis Almeida