Minas Gerais

FEMINISMO

Em BH, 8 de março será marcado por unificação das mulheres

Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo denunciam o crime da Vale, em Brumadinho, e o assassinato de Marielle

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Manifestação contra Bolsonaro, ocorrida em outubro do ano passado
Manifestação contra Bolsonaro, ocorrida em outubro do ano passado - Geanini Hackbardt

Dois atos foram convocados para esta sexta-feira, em Belo Horizonte (MG), dia internacional de luta das mulheres. A Frente Brasil Popular convocou as mulheres para a concentração na Praça Raul Soares, às 17h, com saída prevista para 18h. O mote da manifestação é “Mulheres em luta: o lucro não Vale a Vida”. Já a Frente Povo Sem Medo escolheu o tema “Nossas vidas valem mais” e tem saída prevista para 17h30, da Praça da Estação. Os protestos irão se encontrar na Praça Sete, às 19h, quando haverá a leitura de um manifesto escrito conjuntamente entre as mulheres.

No texto, as mulheres ressaltam as diversas pautas que unificam as manifestações nesta data. Entre os pontos de destaque estão a punição da Vale por seus crimes contra a vida e o meio ambiente, a memória de Marielle e a justiça ao assassinato até hoje sem resposta, a oposição ao governo neofascista de Bolsonaro, à reforma da previdência às privatizações e a liberdade de Lula.

Na saída da Povo Sem Medo, haverá o lançamento do livro “Guaicurus - A Voz das Putas”, uma obra coletiva, escrita por trabalhadoras sexuais, uma realização da Associação de Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig). O cortejo conta com a Fanfarra Feminina Sagrada Profana.

Já a Frente Brasil Popular sairá com uma grande bateria composta com quase 300 mulheres, de 40 blocos de carnaval. O cortejo político começará com o soar da sirene que deveria ter tocado no rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em 25 de janeiro. Mulheres atingidas pela lama estarão presentes no trio. Segundo a organização do ato, duas alas que se contrapõem irão trazer as mensagens políticas do ato. A primeira, com simbologias do lucro e da morte, será de denúncias.

Em seguida as mensagens da importância de um projeto popular para o Brasil representarão a vida, a luta, a preservação da natureza. Ainda durante o ato será lançado o hino “Terra, Cultura e Pão”, composto pelas artistas Bia Nogueira, Bruna Camilo, Esther Maria, Maíra Baldaia e Táskia Ferraz. A manifestação encerra na Praça da Estação por volta das 21 horas.

Link dos eventos: 
Frente Brasil Popular
https://www.facebook.com/events/1223142611170917/

Frente Povo Sem Medo
https://www.facebook.com/events/550752568755918/ 

Leia manifesto na íntegra:

Nossas vidas valem mais do que o lucro

Nós, mulheres de BH estamos nas ruas lutando por nossas vidas. Vidas que são desrespeitadas todos os dias pelo Estado, pelo Capital e pelos homens. Há mais de cem anos, mulheres na Rússia foram às ruas lutar por pão, paz e terra. Hoje, seguimos lutando por nossos direitos e permaneceremos enquanto for preciso. Até que todas sejamos livres.

Feministas contra o racismo, feministas contra o capital!

Feministas contra o machismo e o capitalismo neoliberal!

Quem somos? Somos mulheres. Mulheres de todos os tipos, todas as raças e procedências. Somos coloridas. Amamos a vida e lutamos por ela, nas nossas mais diversas orientações sexuais. Somos jovens e idosas, gordas e magras, altas e baixas, estamos empregadas e desempregadas, somos mulheres de diferentes religiões e sem religião: somos multiplicidade em movimento e somos força coletiva. Somos sem teto, sem-terra, atingidas por barragens. Somos mulheres que choram por seus filhos violentados e assassinados. Amamos a beleza da vida, o respeito às diferenças, a igualdade de direitos. Somos militantes sociais.

ENQUANTO MORAR FOR UM PRIVILÉGIO, OCUPAR É UM DIREITO.

O Brasil atravessa uma grave crise política, econômica, social, ética, ambiental. É a crise do capitalismo neoliberal implantado no Brasil que, na ânsia de aumentar a usina do lucro, investe sobre as precárias políticas públicas conquistadas em lutas históricas da classe trabalhadora. Nesse cenário, nós somos as mais afetadas. A violência invade o nosso cotidiano, restringindo individual e coletivamente nosso direito à vida, a uma vida digna. É este projeto de morte que o governo Bolsonaro estimula e aprofunda. Não aceitaremos retrocesso nos nossos direitos duramente conquistados!

NOSSAS VIDAS VALEM MAIS - ELE NÃO!

Em Minas, as mineradoras e o agronegócio estão em todo o território, poluindo, adoecendo, destruindo e degradando. Aprimorar as tecnologias das barragens não muda a lógica destruidora da economia centrada na exportação de matéria prima, que destrói e degrada o ambiente deixando para trás, morte e destruição. O rompimento das barragens é o alerta que denuncia este modelo de subdesenvolvimento voltado para o lucro de uma minoria capitalista, racista e patriarcal.

NÃO FOI ACIDENTE! VALE MATA RIO, MATA PEIXE, MATA GENTE.

As mulheres mineiras se mobilizam em defesa da vida, do ecossistema, contra os desmandos dos governos e das grandes mineradoras. Se mobilizam para não deixar impune os crimes dessa empresa que destrói a natureza, mata trabalhadoras e trabalhadores, dizimam populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas povos que mantem e preservam a mãe terra. Os governos e as grandes mineradoras retiram o brilho de tudo que vive, o pão de nossas mesas, a vida de nossas terras, as águas de nossos rios.

AI, AI, AI EMPURRA O MITO QUE ELE CAI.

A reforma da Previdência, que está em tramitação no congresso nacional, mostra o total desprezo para com o povo. Caso aprovada, não sobrará pedra sobre pedra dos direitos previdenciários e assistenciais. Prevê a extinção da Previdência Social para a trabalhadora e o trabalhador, que estarão vinculados a uma previdência privada, transformando a aposentadoria em uma mercadoria. Isso quer dizer que nossas contribuições serão negociadas na bolsa de valores, sujeita às crises do sistema financeiro e, portanto, não estarão asseguradas para a nossa aposentadoria.  

NÃO VAMOS TRABALHAR ATÉ MORRER.

As mulheres são as mais atingidas já que somos a maioria entre as pessoas desempregadas, somos as que ocupam os empregos precários e informais, sem carteira assinada, sob dupla e tripla jornada, com uma situação de instabilidade no mercado de trabalho onde entramos e saímos, devido aos cuidados com espaço doméstico.  Entre o emprego e o desemprego, como contribuir por 40 anos? Com todas as dificuldades de nossas vidas, como trabalhar por 40 anos sem parar? Aposentadoria e um direito que temos ao sustentar a economia com o nosso trabalho. Por isso a Previdência social tem de ser publica, universal e solidária.

APOSENTADORIA NÃO É MERCADORIA.

A concorrência e o individualismo ocupam cada vez mais os espaços de nossas vidas e estimulam o ódio. O ódio se dissemina, assume uma lógica sistêmica e crescente contra as mulheres. Nos mata. Convivemos com a violência domestica e nas ruas. Quando queremos ter filhos ou quando não queremos. Nesse moinho das agressões, a violência se desdobra da dimensão psicológica ao assassinato. Não aceitamos os velhos argumentos que justificam as agressões: descontrole, intensa emoção, paixão e ciúmes. Sobretudo as mulheres negras, travestis e transexuais são alvos privilegiado de práticas perversas e assassinas.

A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NÃO É O MUNDO QUE A GENTE QUER.

Vamos garantir o direito de sermos livres e donas de nossos corpos, sem nenhuma interferência de fundamentalistas de qualquer natureza. Marchamos pela construção de um novo marco de sociabilidade que seja antirracista, anti-homofóbica e anticapitalista.
Seguimos os passos de Marielle: mulher negra, lésbica, parlamentar socialista, ex-moradora na favela da Maré e liderança destacada na defesa dos direitos humanos e denúncia do genocídio – foi assassinada porque ousou se erguer na defesa de seu povo. Marielle e imensa e aponta o caminho onde seguimos de mãos dadas.

MARIELLE! PRESENTE

Os tambores de Minas soarão, com nossas vozes que repercutirão nas casas, nas ruas. E cantamos com a forca de nossas vidas, de nossa ancestralidade:

"Atenção para o refrão
É preciso estar atenta e forte
Não temos tempo de temer a morte"

 


 

Edição: Joana Tavares