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Crianças do Alto Vera Cruz, em BH, aprendem ciência, tecnologia e a arte da gambiarra

Projeto desenvolvido na favela incentiva a criatividade e ensina princípios da eletrônica e da robótica

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Na última etapa do Favela Hacklab, em agosto, cada criança vai construir um projeto próprio que fará parte de uma exposição
Na última etapa do Favela Hacklab, em agosto, cada criança vai construir um projeto próprio que fará parte de uma exposição - Foto: Área de Serviço

"Eu animei e vi as ideias crescerem. As ideias vêm, né?”. Foi assim que Hiago Wenderson, de 13 anos, começou a contar sobre seu projeto desenvolvido no Favela Hacklab, iniciativa que junta iniciação à robótica e à eletrônica com improvisação e muita gambiarra. Fruto da parceria entre a plataforma Gambiologia e a ONG Arebeldia, o Favela Hacklab é um clube de arte, ciência, tecnologia e diversão no Alto Vera Cruz, na Região Leste de Belo Horizonte. 
Durante 11 encontros, cerca de 15 crianças e adolescentes entre 10 e 15 anos participaram de oficinas nas quais aprenderam ligação direta, ligação paralela, solda. Essas e outras técnicas foram usadas para construir lanternas e robôs a partir de materiais recicláveis. Inspirado pela cultura maker, em que qualquer pessoa pode construir, consertar, modificar e fabricar diversos objetos com as próprias mãos, a última etapa do Favela Hacklab consiste em cada criança construir um projeto próprio que fará parte de uma exposição na última semana de agosto deste ano. 
O projeto de Hiago é uma televisão, feita com pedaços de madeira, bonequinhos aproveitados e muitas luzes de led que ele mesmo fez. “Vão ter três bonecos dentro, um goleiro de um time e outro de outro time. As luzes de led vão ficar atrás do goleiro para dar um ‘tchan’, como se fossem holofotes. Por cima, vai ter uma luz igual a de um museu. Vai ter também um controle e umas luzes que vão piscar, para ficar tipo as câmeras”, explica detalhadamente. Seu projeto simula um jogo de futebol transmitido pela TV. 
Fred Paulino, que se apresenta como catalisador do Gambiologia, é uma das pessoas que conduzem as crianças nas oficinas. Ele – que atua na área há mais de dez anos – conta que o Favela Hacklab foi pensando, desde o início, para ser um programa que permitisse um aprofundamento de conteúdo, agregando outros elementos para além da arte e da eletrônica, como empreendedorismo, moda e ecologia. 
A expectativa é que o projeto continue no próximo semestre, o que vai depender de financiamento. Na opinião de Fred, o resultado do projeto foi surpreendente. “Foi mais lúdico do que eu imaginei, mais inspiracional, e com pinceladas de conteúdo bem básicos, que é onde eles conseguem chegar. A gente viu que ia ser importante educá-los eles não só ensinando coisas de gambiologia, mas sobre lida, cuidados com o espaço, com os materiais, com quem está do lado. E isso foi muito bem-sucedido”, avalia.

Foto: Área de Serviço

A arte da gambiarra
Gambiologia é uma plataforma, surgida em Belo Horizonte, em 2008, que propõe projetos relacionados à tradição da gambiarra, que envolve cultura brasileira e arte eletrônica. Como ações, são realizadas exposições coletivas, como a “Gambiólogos/Maquinações” e a publicação da “Facta – revista de Gambiologia”. Além disso, a plataforma propõe ações educativas, como o Favela Hacklab. 
“A favela é o espaço original da gambiarra. E o projeto, de certa maneira, tem o caráter de estabelecer pontes entre universos. É a gente vir aqui e aprender um pouco do contexto deles e também trazer uma pouco da nossa experiência”, conta Fred.  
Saiba mais
Acesse: www.instagram.com/gambiologia.oficial

 

Edição: Elis Almeida