Paraíba

CONTRADIÇÃO

Livro “O Protegido” é lançado na UFPB e revela ex-presidente FHC como ruralista

O autor da obra é Alceu Luís Castilho, jornalista fundador do observatório De Olho nos Ruralistas

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Durante o lançamento do livro, o autor Alceu Castilho também falou sobre a destruição da Amazônia e a propaganda do agronegócio.
Durante o lançamento do livro, o autor Alceu Castilho também falou sobre a destruição da Amazônia e a propaganda do agronegócio. - Reprodução

O projeto Realidade Brasileira e Universidade, organizado pela Associação dos Docentes da Universidade Federal da Paraíba (Aduf-PB), realizou, em sua mais recente edição, nesta terça (27), o lançamento do livro “O Protegido – Porque o país ignora as terras do FHC”, do jornalista Alceu Luís Castilho. O evento aconteceu no auditório do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), campus I da UFPB, e contou com a participação, também, do professor de Geografia, Marco Mitidiero (UFPB), que fez as honras da casa, apresentando para o público, o autor da obra a ser lançada.

Castilho é fundador do De Olho nos Ruralistas, um observatório sobre agronegócio no Brasil. Sua obra “O Protegido” trata do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), dono de grandes propriedades de terra, realidade desconhecida pela maioria da população brasileira.  “Há um silêncio sobre Fernando Henrique que é um dos motivos do livro se chamar ‘O protegido’. É protegido pela Justiça e pela imprensa. O que observamos é uma imensa contradição entre o que foi feito com outro ex-presidente em relação ao sítio em Atibaia, por exemplo”, explica Alceu Luís Castilho em referência às investigações relacionadas a supostas propriedades do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Capa do livro O Protegido. / Reprodução.

Castilho lembrou que quando fala da imprensa, nesse caso, não inclui nela o leque da imprensa alternativa, que tem divulgado o livro e dado vazão ao fato de FHC ser um grande e próspero fazendeiro, propriedades que nunca tiveram atenção da grande mídia. A obra é uma continuação de uma reportagem do jornalista que questionou como o enriquecimento do ex-presidente, dono de duas propriedades em Botucatu, no interior paulista, nunca havia levantado suspeitas no Brasil. Mesmo tento se afastado da empresa Goytacazes Ltda, onde seus filhos eram sócios, FHC ao voltar para a sociedade, fez o capital desta saltar, em apenas um ano, de R$ 5,7 milhões em 2018, para R$ 8,9 milhões.

Jornalista autor do livro "O Protegido", Alceu Luís Castilho. / Reprodução.

Na oportunidade, o jornalista autor do livro respondeu ao BDF –PB questões sobre a destruição da Amazônia, que tem chamado a atenção do mundo todo nesse momento, e a propaganda do agronegócio na mídia, confira:

BdF – Qual o projeto dos ruralistas para a Amazônia? E qual a relação desse projeto com o governo Bolsonaro?

Alceu Luís Castilho - A destruição da Amazônia não começa com o governo Bolsonaro, ela apenas agora ganha uma condição de espetáculo, como estamos numa sociedade do espetáculo, agora com fumaça em São Paulo, o Brasil subitamente percebe que estão destruindo a Amazônia, aumentou o ritmo? Sim aumentou o ritmo, mas o ritmo anterior era aceitável? Claro que não.  A Amazônia já estava destinada a destruição assim como destruíram o Cerrado, muita gente diz que o Cerrado já está destruído como bioma. Então de certa forma a violência dessa direita mais grotesca, perfeitamente aceita pela direita mais liberal, de certa forma explicita para a sociedade, uma destruição ambiental que é estrutural pro agronegócio. Qual o pacto envolvido entre ruralistas e bolsonaristas em relação à Amazônia? O pacto é a destruição. De o Bolsonaro dizer declaradamente de que ia parar essa coisa de multas, pressão de madeireiros, pressão dos ruralistas. E não se enganem com os madeireiros fazem parte do mesmo sistema. A soja, os grãos empurram a agropecuária, que empurra o madeireiro para mais adiante, e os donos muitas vezes são os mesmos. A gente vai inaugurar no mês que vem uma série de Olho nos Desmatadores, evadindo 25 anos de megamultados pelo Ibama. Estão lá bolsonaristas, colunáveis, representantes da elite paulista, gaúcha, do sul e do sudeste brasileiros, também do norte e do nordeste. O pacto, portanto, entre Bolsonaro e ruralistas e madeireiros é pela destruição. O dia do fogo foi uma espécie de lembrança desse pacto e o próprio Bolsonaro que posa de defensor da soberania, ele prometeu durante a campanha, em entrevista ao El País Brasil, de tornar a Amazônia, em conjunto com países estrangeiros, particularmente com os Estados Unidos. Então agora quando ele simula indignação com a França e o Macron, quando ele simula defesa da soberania, ele está sendo apenas mentiroso porque ele já queria explorar com os EUA e já tem liberado a Amazônia cada vez mais para a mineração, para as commodities do agronegócio.

E a campanha Agro é Pop?

A campanha do Agro é Pop ele aparece no momento em que as editorias passaram a ser do agronegócio e não mais de agropecuária, ou revistas do agronegócio. Ora, se elas não cobrem mais agropecuária e cobrem só o agronegócio, elas estão se silenciando em relação a existência de outros modelos, esses modelos são desprezados, portanto, pela narrativa hegemônica e não são percebidos pela população. O que se está sendo escondido no limite é o direito à terra, uma definição mais popular, simples de camponês, é aquela relativa a condição que uma família camponesa tem de sobreviver a partir de um pedaço de terra, criando animais, plantando, acessando recursos naturais, em particular a água. Sem a existência de camponeses, eliminado camponeses, expulsando camponeses - que resistem, mas muitos foram expulsos - resta ao cidadão vender sua força de trabalho, num país que não tem emprego para todo mundo, então o direito à terra e direito à moradia, no fundo são primos, eles deveriam estar no ponto de partida de qualquer percepção sobre o direito à dignidade de cada cidadão brasileiro e no momento que essa imprensa faz propaganda de um modelo que é concentrador de terra, de renda, que ajuda a expulsar camponeses, inclusive com armas químicas, agrotóxico despejado sobre assentamentos, sobre comunidades indígenas. No momento em que a imprensa brasileira faz propaganda desse modelo excludente, dirimidor da falsa diversidade, a partir da privatização de sementes, com os transgênicos, esse modelo que nos envenena diariamente, ela está atacando cada um dos 200 milhões de brasileiros e não somente os 40 milhões, que no mínimo, vivem no campo.

Edição: Heloisa de Sousa