Rio Grande do Sul

OPINIÃO

Artigo | Liberar saque do FGTS é uma armadilha

"Bolsonaro pode até tentar parecer ser voltado aos mais pobres, mas não podemos nos deixar enganar", diz Marcon

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Em um país com 63,4% das famílias endividadas, dinheiro retornará aos bancos como pagamento de contas
Em um país com 63,4% das famílias endividadas, dinheiro retornará aos bancos como pagamento de contas - Foto: Agência Brasil

Passaram-se seis meses do governo Jair Bolsonaro e o que assistimos é um tsunami de medidas que atingem diretamente os direitos dos trabalhadores do campo e da cidade. Menos direitos e mais pobreza. Um presidente despreparado que ainda não desceu do palanque eleitoral.  

O governo anunciou a liberação do FGTS, o que mostra claramente a falta de plano para o desenvolvimento da economia para o país. É mais uma propaganda enganosa, repetindo a atitude de Michel Temer (MDB) em 2017 – afinal já sabemos que essa medida não vai resolver o problema do desemprego que atinge mais de 30 milhões de brasileiros, nem da economia que está longe de atingir qualquer expectativa do governo, do mercado, e principalmente do povo.

A liberação de até R$ 500 reais do FGTS é mais uma armadilha para a classe trabalhadora que, na verdade, vai acabar com uma boa parte da poupança que possui no seu nome. Se a medida do governo entrar em vigor, esse dinheiro voltará para os bancos, pois em um país com 63,4% das famílias endividadas, a opção da grande maioria dos brasileiros será pagar as contas. Ou seja, não impulsionará o consumo, nem gerará emprego: servirá para diminuir os valores negativos nas finanças da população, e para boa parte, nem servirá para quitar completamente suas pendências.

De acordo com pesquisa feita pela CNDL e pelo SPC, a dívida média do brasileiro chegou a R$ 3.239,48 em maio. E o número de brasileiros inadimplentes, que não consegue sequer pagar contas de água e luz e estão com o CPF negativado, bateu novo recorde e chegou a 63,2 milhões em abril, o que representa 40,4% da população adulta do país, de acordo com a Serasa.

Por mais que essa medida do governo não mexa nas outras formas de saque existentes hoje referentes ao FGTS, a Medida Provisória de Bolsonaro - que ainda precisa passar pela aprovação da Câmara dos Deputados para realmente valer, é uma maquiagem que não resolve o problema e coloca o trabalhador numa emboscada: optando pelos saques anuais em seu aniversário, trabalhadores terão confiscado 60% do total do FGTS que poderiam sacar nas situações já previstas em lei, o que é um completo absurdo.

O governo Bolsonaro pode até tentar parecer ser voltado aos mais pobres, mas não podemos nos deixar enganar: esse governo é dos ricos. Dos banqueiros, dos grandes empresários. E essa medida referente ao saque do FGTS é mais um exemplo disso. Num primeiro momento, se analisarmos superficialmente, parece algo bom, mas se pararmos para pensar por alguns instantes, a verdade é que ela é uma grande emboscada para atacar mais direitos do povo trabalhador.

* Assentado da reforma agrária e deputado federal (PT/RS)

Edição: Marcelo Ferreira