Rio de Janeiro

DITADURA

Relato | Resistir é preciso e manter laços de afeto e de luta é revolucionário

Militantes do movimento estudantil da Universidade Federal Fluminense (UFF) se reencontraram no último dia 6

Rio de Janeiro (RJ) |
Durante o reencontro também foi realizada uma homenagem à memória de Fernando Santa Cruz
Durante o reencontro também foi realizada uma homenagem à memória de Fernando Santa Cruz - Reprodução

A ideia de um reencontro de militantes do movimento estudantil da Universidade Federal Fluminense (UFF) já estava em pauta por um grupo de ex-diretores do Diretório Central dos Estudantes (DCE) dos anos 80 quando aconteceu o ataque do ser abjeto que ocupa o Palácio do Planalto à memória de Fernando Santa Cruz. Um ataque a todos os que lutaram contra a opressão e o golpe civil-militar de 64. Rapidamente a homenagem foi idealizada, pois não poderíamos deixar de manifestar nossa indignação. Neste momento a proposta já tinha ganhado o apoio ativo de militantes dos anos 70 e 90. 
Maria Auxiliadora Santa Cruz, a Dora, foi professora da Faculdade de Nutrição da UFF e companheira de Conselho Universitário de vários de nós. Mas ninguém imaginava um depoimento tão emocionante como o que fez no DCE da UFF no dia 6 de setembro, relatando fatos de sua luta contra o regime assassino, os dez irmãos, o sofrimento dos seus pais e a prisão de sua irmã, torturada até abortar na prisão. 
Da mesa da homenagem participaram também diretores dos anos 70 e 80, Amauri Pinheiro e  Silas Ayres, Paulo Ribeiro do Coletivo Memória Verdade e Justiça, que compõe a Comissão Nacional da Verdade, e Luga, diretor do DCE-UFF, da UEE e da UNE. A mesa foi coordenada pela ex- presidente do DCE e artista plástica Alessandra Simplício, que ao final do debate entregou seu óleo sobre tela, inspirado em Fernando Santa Cruz, à Dora, em nome de todos os ex-militantes. Presente no evento também o vereador Paulo Eduardo, que aprovou na Câmara de Vereadores o título de cidadão niteroiense para Fernando Santa Cruz.
Antes mesmo do final da fala de Dora, a última da mesa a se pronunciar, era possível sentir um cheiro de fumaça no ambiente. Mas em um local com janela para local aberto nenhum de nós imaginava o que estava acontecendo. Logo em seguida chega a notícia de que um princípio de incêndio estava acontecendo na entrada do DCE. O fogo foi controlado inicialmente por um segurança do evento e diretores que estavam no primeiro andar e em seguida pelos bombeiros. Foi encontrado um pavio, colocado até uma parte da escultura da entrada do diretório. Diretores do DCE registraram ocorrência na Polícia Federal e vão reivindicar uma investigação independente à reitoria da UFF. 
Apesar da fumaça que tomou conta de outros andares, a festa seguiu animada na cantina do DCE até às 4 horas da manhã. Afinal, resistir é preciso e manter a alegria e os laços de afeto e de luta nestes tempos de intolerância é revolucionário.

Edição: Vivian Virissimo