Minas Gerais

Prejuízos

Até três dias sem água: moradores de Brumadinho sofrem com constante racionamento

Rompimento da barragem trouxe grave problema de água à cidade; moradores denunciam irresponsabilidade da Vale

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Desde o crime da mineradora as nascentes secaram totalmente
Desde o crime da mineradora as nascentes secaram totalmente - Foto: Agência Brasil

Nesta sexta-feira (25), completam-se nove meses do crime da Vale em Brumadinho (MG), quando a barragem de Córrego do Feijão rompeu e matou, ao menos, 272 pessoas. O tempo não amenizou os prejuízos do crime. Os moradores de Brumadinho denunciam que, desde o rompimento, estão passando por um racionamento de água que atinge toda a cidade e comunidades rurais. A situação de calamidade se agrava com a negligência da principal responsável pelo crime, a mineradora Vale S.A.

A comunidade do Tejuco era abastecida por três nascentes, conta a moradora Maria Aparecida da Silva Soares, agricultora conhecida como Paré. “As nascentes que davam água pro Tejuco secaram e estão brotando no terreno da Vale, porque ela abaixou o lençol freático”, descreve. A comunidade sofria com o secamento das nascentes há cinco anos, mas desde o rompimento da barragem as nascentes secaram totalmente. “Você sabe o que é uma nascente que escorria uma cachoeira e agora você coloca um copo lá e não sai um pingo dágua?”, lamenta Paré.

Agora, o Tejuco, segundo a moradora, sobrevive com a água do caminhão pipa da Copasa, que leva 10 mil litros de água todo dia, o que seria insuficiente para abastecer os 1.500 moradores. Algumas vezes a Vale envia 100 fardos de água, o que, na opinião de Paré, gera mais confusão do que solução. “Parece que o que eles querem é briga mandando esse pouco de água. Um pega, outro não pega... está uma tristeza ver o povo brigando por causa de água”, diz Paré, triste.

Hoje, a responsabilidade pela água tem sido assumida pela Prefeitura de Brumadinho e pela Copasa, segundo o integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) Miqueias Ribeiros de Carvalho. A mineradora teria se retirado da responsabilidade quando começou a pagar os auxílios emergenciais mensais às famílias atingidas.

“Tem comunidades, mais abaixo, em São Joaquim de Bicas por exemplo, é triste de se ver os animais morrendo de sede e famílias há 15 dias sem água. Por uns três meses a Vale fornecia água para muita gente, mas depois que as famílias estavam recebendo o auxílio, eles suspenderam a água”, conta.

Outros bairros

Algumas comunidades foram mais afetadas, mas a população de Brumadinho como um todo sofre com a falta d’água. Miqueias afirma que o racionamento está sendo feito em todos os bairros de Brumadinho, inclusive o Centro, em esquema de revezamento. Os moradores chegam a ficar três dias sem reabastecimento. “Está triste a nossa situação”, comenta.

Respostas

A Vale assume que não estaria mais fornecendo água à comunidade Tejuco. Sem apresentar o motivo, a mineradora afirma que continua enviando água apenas "às propriedades que não possuem água encanada, aos que captavam água diretamente no rio Paraopeba, e aos usuários de poços artesianos e cisternas que estão até 100 metros de distância do rio". A mineradora ainda se defende sobre a quantidade de água fornecida. "O volume de água e a frequência de distribuição são avaliados, observando cada caso, de acordo com a necessidade do atingido", diz a Vale em nota.

A Copasa também foi procurada, mas não respondeu.

Edição: Joana Tavares