Pernambuco

FOLIA

Olinda: terra do carnaval e dos bonecos gigantes

Mais de 80 bonecos percorrem as ruas da cidade alta ao som de muito frevo

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Cada bonequeiro recebe R$100 pelo desfile e disputa uma vaga com muitos outros - Rani de Mendonça

Com o tema "carnaval de Olinda é coisa de outro mundo", a cidade alta hoje recebeu um encontro de gigantes. O 33° Encontro de Bonecos Gigantes de Olinda começou logo cedo, no Largo de Guadalupe, em frente a Sede do Cariri Olindense, troça que divide as homenagens do Encontro com John Travolta, a Mulher do Dia, O Homem da Meia Noite e o carnavalesco Marcos Taramps. Mais de 80 bonecos e bonecas se encontraram sob a bênção de Nossa Senhora de Guadalupe e de centenas de foliões que se organizam para desfilar pelas famosas ladeiras, debaixo de muito sol – e ainda de muita alegria, mesmo sendo o quarto dia de festa.  

Mas, os bonecos não andam sozinhos, por trás deles, ou melhor, embaixo, tem muita gente que curte a folia de um jeito diferente e que dá vida aos gigantes mais famosos entre as histórias do Carnaval olindense. Este é o caso de Jones Silva, 30, que perdeu as contas de quantas já participou do desfile levando um boneco nas costas. “Acho que faz uns 10 anos e todo ano é uma sensação muito boa de levar alegria para a multidão e ainda se divertir”, conta o bonequeiro. Jones este ano dividiu o percurso do bloco com pedreiro Paulo Ferraz, 33 anos, que há 6 anos não falta o encontro. “Sou daqui de Guadalupe e acho ótimo dar vida aos bonecos. É uma energia maravilhosa!”. Ele ainda completa que é um momento de ganhar um dinheiro extra “não é muita coisa, mas ajuda a pagar uma conta, uma coisa”, diz. A maioria dos trabalhadores da folia que carregam os bonecos são moradores da própria comunidade de onde o cortejo sai. Eles recebem R$100 pelo desfile e disputam uma vaga com muitos outros, todos homens.


O bonequeiro Jones este ano dividiu o percurso do bloco com pedreiro Paulo Ferraz / Rani de Mendonça

José Marcos Batista também é um dos bonequeiros. Este ano ele carregou o "Linguarudo", mas entre 15 anos em que participa já levou muitos outros bonecos importantes, como o do ex presidente Lula e da ex presidenta Dilma Rousseff. “É bom demais levar Lula, porque todo mundo quer tirar foto. O povo me dá cerveja, me dá dinheiro... os outros não têm isso não”, reitera. Perguntado se ele gosta da figura do ex presidente, José Marcos retruca “gosto sim, só ele que fez uma gracinha aqui pra gente. O resto é tudo mentira e conversa mole”. Ainda sobre a possibilidade de levar o boneco do atual presidente Jair Bolsonaro, Batista contou que “queria não. Ontem ele saiu pela rua, tiveram que chamar a polícia pra conseguir andar. Nem pra isso o presidente serve”. O boneco de Bolsonaro desfilou na segunda-feira (24), junto com alguns poucos bonecos da Embaixada dos Bonecos Gigantes de Recife.


Este ano o bonequeiro José Marcos carregou o "Linguarudo" / Rani de Mendonça

Os bonecos tradicionalmente arrastam milhares de pessoas. Este ano, o desfile contou com a estreia do casal paulista Érica Carolina e Anderson José. Vieram de São Paulo brincar o carnaval em Pernambuco e desde sábado que sobem e descem a ladeira. Fantasiados de petroleiros, com plaquinhas “acabou a mamata” e “o petróleo é nosso”, o professor e a trabalhadora de relações públicas estavam encantados. “Estou achando muito bacana, mesmo sem conhecer muitos dos personagens, mas ainda vamos pesquisar muito. Mesmo assim, já é muito legal”, conta Érica. Anderson estava bastante animado, sobretudo com a história que estava vivendo ali naquele momento “É muito importante manter a tradição e também o resgate histórico que é o encontro desses bonecos, que carregam muitas outras histórias”, diz. Sobre as fantasias, Érica explicou que estavam vestidos em homenagem ao ministro da economia Paulo Guedes. “é uma homenagem para o ministro. A gente está junto com os petroleiros, com a greve que eles fizeram e também pelo povo brasileiro que têm sofrido com os retrocessos desse governo”.


Érica Carolina e Anderson José vieram de São Paulo brincar o carnaval em Pernambuco / Rani de Mendonça

A ideia e a organização do evento são do artista Plástico Silvio Botelho, realizador também de quase todos os bonecos que desfilam. “Quem faz mesmo a festa são os diretores das troças e os amantes de carnaval. Nós, que organizamos este encontro queremos sempre lembrar da nossa história. Olinda é quem produziu o primeiro boneco gigante do mundo, que é o Homem da Meia Noite. Não podemos deixar essa tradição morrer”, conta o artista.  O cortejo de bonecos seguiu pelas ruas companhado de três orquestras ao som de muito frevo, muita cor, cultura e também orgulho de ser o chão que nasceram os bonecos gigantes.  

Edição: Vanessa Gonzaga