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Artigo

“O amor entre as mulheres muda o mundo”

Nós, mulheres, somos gigantes quando ousamos estar juntas

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
A militância lésbica e bissexual trouxe importantes contribuições para o movimento de mulheres, como o o desvendamento da imposição da heterossexualidade como norma - Mídia Ninja

Após décadas de lutas e conquistas de direitos das mulheres e população LGBT, não há dúvida de que vivemos, junto a uma profunda crise econômica, social e política, um forte retrocesso conservador. Essa situação, aliás, não é ‘privilégio’ do Brasil: no mundo inteiro políticos e organizações de extrema direita, em meio à crise econômica, tem ganhado popularidade com agendas de promoção da violência, do ódio, da ‘limpeza social’ e de retirada de direitos. Um traço comum entre eles tem sido o de atacar de maneira particular a nós, mulheres, e a toda a população LGBT. O Governo Bolsonaro é um dos maiores representantes desse projeto em todo o mundo.

No próximo domingo, dia 08 de março, celebramos o Dia Internacional da Luta das Mulheres. Sairemos às ruas em defesa dos nossos direitos, denunciando esse projeto que violenta e mata, propagandeando nossas lutas e ideias e lembrando aquelas das mulheres e do movimento feminista que vieram antes de nós. Nessa luta, nós, mulheres lésbicas e bissexuais, também fazemos história ao seguir lutando pelo fim da violência lesbofóbica, pelo acesso a direitos e  por reconhecimento em nossa sociedade.

A militância lésbica e bissexual trouxe importantes contribuições para o movimento de mulheres em geral. Entre as mais significativas está o desvendamento da imposição da heterossexualidade como norma, trazendo seu questionamento como instituição política. O que a poeta e escritora feminista Adrienne Rich um dia chamou de de heterossexualidade compulsória é o conjunto de práticas sociais responsáveis por apontar o caminho da união afetiva e sexual com os homens como o único caminho possível e desejável para nós, mulheres.

A heterossexualidade compulsória, reforçada nesse momento de retrocesso conservador, se mostra na invisibilização, na nossa cultura, na arte, na mídia, da própria existência do amor entre mulheres, e na condenação das mulheres lésbicas e bissexuais como sujas, pecaminosas ou incapazes de amor “de verdade”. Mostra-se também na violência sofrida por mulheres lésbicas e bissexuais em razão da nossa orientação sexual, como o estupro corretivo, e na negação de direitos a essa parte da população.

Ela é, entretanto, mais do que isso. Trata-se também da ideia de que nós, mulheres, devemos tolerar a violência dos homens à nossa volta (“ele é assim mesmo...”), amá-los e permanecer ao seu lado a qualquer custo, já que esse seria nosso “destino natural”. É ela que permeia a naturalização da violência doméstica e da violência contra a mulher em geral, que faz com que mulheres permaneçam em relacionamentos insatisfatórios ou mesmo violentos e que as pessoas deixem de denunciar práticas de violência como tal, tratando como um problema pessoal dos envolvidos (“em briga de marido e mulher, não se mete a colher”).

Trata-se ainda da condenação de todos os tipos de laços de afeto e amizade entre mulheres, nos mantendo isoladas umas das outras, dificultando que nós criemos relações de confiança e proteção entre nós e que possamos agir coletivamente. Quantas vezes não ouvimos que “mulher não é amiga de mulher”, ou que laços de afeto entre mulheres seriam falsos, movidos por interesses, como se nós, mulheres, fôssemos “naturalmente” feitas para competir umas com as outras?

Mas nós, mulheres, somos gigantes quando ousamos estar juntas. Somos maiores quando seguimos escolhendo umas às outras como nossas amigas, namoradas, companheiras de vida e companheiras de luta; a cada vez que escolhemos acolher e proteger umas às outras da violência patriarcal, capitalista e racista; ao criar cooperativas de mulheres para trabalharmos coletivamente; ao ousar criar nossa arte e cultura lésbica, nossa ciência feminista. Não podemos nos esquecer que fomos nós, por amor e pela vida das mulheres, que ousamos primeiro gritar “Ele não!” quando se anunciava a chegada ao poder desse projeto de morte. A luta das mulheres lésbicas e bissexuais é por viver e amar com liberdade e só pode ser uma caminhada coletiva: é uma luta de todas nós. 

Isabella Oliveira Mendes é integrante do Levante Popular da Juventude.

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Edição: Joana Tavares