Coluna

Robson e a Fanta Uva

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Ouça o áudio:

Que combinações você não faria na hora de montar seu prato no almoço? - Foto: Nacho Domínguez Argenta/Unsplash
Ele enchia um prato fundo de feijão, pulava para o buffet das frutas e punha uns pedaços de melancia

Tem gente que odeia jiló. Tem gente que acha jiló a maior delícia. Tem gente que odeia fígado de boi, tem gente que acha fígado de boi a maior delícia.

Contei para uns amigos sobre um tempo que ia muito a Belo Horizonte e todas as tardes ia ao Mercado Central, onde vários botecos serviam cachaças de primeira e cerveja bem gelada, e o tira-gosto mais requisitado deles era fígado com jiló.

Um amigo torceu o nariz, falou “eca... que horror”, e outro ficou doidinho pra ir lá.

Aí conversamos sobre como os gostos variam.

Minha mulher odeia doce de coco, o que eu acho estranho, porque gosto muito.

Numa coisa nosso paladar combina bem: nem ela nem eu suportamos comida temperada com coentro.

Tenho amigos que adoram dobradinha, aquele prato feito de tripas, e eu não consigo comer. Já tentei.

Um amigo resolveu fazer uma surpresa pra mim, num aniversário e me levou a um bar que segundo ele, tinha uma comida que eu ia gostar demais.

Chegando lá, revelou:

- Aqui servem a melhor dobradinha de São Paulo.

Foi uma das vezes que tentei comer, mas não deu.

Em alguns lugares do sertão da Bahia e de Minas Gerais vi muita gente que comia feijão com rapadura, e gostava muito. Nunca experimentei.

Mas um amigo baiano, o Robson, gosta não só disso, mas mais ainda de uma coisa que só vi ele comer, mais ninguém.

É feijão com melancia.

Durante o governo Erundina, na prefeitura de São Paulo, fui fazer uns trabalhos na Secretaria da Habitação e ele estava empregado lá.

Descobrimos um ótimo restaurante com buffet livre, incluindo sobremesas, por um bom preço.

E ficava tudo ali para a gente se servir: saladas, carnes, doces, frutas...

Eu me servia primeiro de salada, depois o prato principal e por fim a sobremesa. Ele enchia um prato fundo de feijão, pulava para o buffet das frutas e punha uns pedaços de melancia em cima.

Todo mundo olhava espantado, mas ele comia com o maior prazer.

Eu me acostumei com o gosto esquisito que ele tinha, mas um dia não resisti.

Foi quando ele, eu e uma amiga, a Railda, fomos comer uma feijoada. A Railda e eu pedimos cerveja, ele disse que não queria beber álcool e pediu uma fanta uva. Quando o garçom ia saindo pra buscar as bebidas, ele alertou:

- Sem gelo, viu? Eu tô meio resfriado...

Foi aí que não aguentei: falei fingindo brabeza:

- Robson, se me mandassem escolher entre fanta uva sem gelo e um tiro na testa eu ia vacilar na escolha...

 

Edição: Lucas Weber