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Covid-19: em meio à crise, bancos públicos são “tábua de salvação”, diz economista

Juntos, BNDES, Caixa e BB devem liberar cerca de R$ 230 bilhões para setores afetados pela pandemia

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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"Crise acabou derrubando tese do governo de que é preciso vender tudo", afirma presidente da Fenae - Miguel Schincariol / AFP

Em meio ao agravamento da crise econômica por conta do coronavírus, os três principais bancos públicos devem liberar, ao todo, um montante de cerca de R$ 230 bilhões para auxiliar setores da economia impactados pela pandemia.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou um pacote emergencial de R$ 55 bilhões, enquanto o Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal (CEF), juntos, serão responsáveis por R$ 175 bilhões.

No caso do BNDES, R$ 5 bilhões serão para capital de giro para pequenas e médias empresas. O valor deve ser canalizado para 150 mil empresas, que mantêm 2 milhões de funcionários. O restante do dinheiro será utilizado para transferência de recursos do PIS/Pasep para o FGTS, suspensão do pagamento de operações diretas e indiretas, entre outros.

Já o Banco do Brasil deve priorizar, além de empresas, segmentos como pessoas físicas, agronegócio, prefeituras e governos estaduais. No caso destes últimos, o financiamento deve ser voltado para aquisição de insumos médicos. A Caixa irá contemplar carteiras de crédito consignado, crédito agrícola, setor imobiliário, micro, pequenas e médias empresas, além de prever liberação de FGTS para situações emergenciais.  

Para o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Jair Pedro Ferreira, a iniciativa ajuda a contrapor o discurso que vem sendo orquestrado pelo governo Bolsonaro sobre uma eventual necessidade de fatiamento da Caixa

“Acho que essa crise acabou matando, quebrando a tese do atual governo de que é preciso vender tudo. Está provado agora que não resolve e que os bancos públicos são essenciais neste momento”, afirma Ferreira.

O presidente destaca que, em momentos de uma acentuação de crise como este, os bancos privados tendem a reduzir a sua participação no mercado por conta do alto risco anunciado pelo contexto brasileiro, marcado pelo encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) e pelo fechamento de empresas, com consequentes demissões.

“Do jeito que nós estamos, do jeito que a economia já vinha mal, e agora com essa pandemia, se não tiver a presença do Estado e dos bancos públicos, nós não vamos sair tão cedo dessa emboscada ”, acredita, destacando que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil estão entre os cinco maiores bancos do país.

Para o professor Victor Leonardo Araújo, do curso de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), o momento ainda não permite previsões certeiras sobre a dinâmica dos investimentos econômicos diante do avanço da pandemia. Ele sublinha, no entanto, que os bancos públicos seriam essenciais na gestão dos problemas econômicos resultantes da crise por conta da tendência de retração nas iniciativas das instituições financeiras privadas.

“A tendência é que os bancos privados reduzam a oferta de crédito inclusive pra capital de giro. Nessas situações, os bancos públicos sempre costumam ser a tábua de salvação, exatamente porque são motivados pra realização de políticas públicas", destaca.

No caso da Caixa Econômica Federal, o banco responde por cerca de 70% do financiamento de todo o setor de habitação no país, com essa participação chegando a 90% no caso dos financiamentos para pessoas de baixa renda.

Para o professor Fábio Sobral, do curso de Economia da Universidade Federal do Ceará (UFC), o aporte anunciado pelos três bancos públicos pode não ser ainda o suficiente para conter a crise, que, em sua avaliação, demanda uma participação maior do Estado brasileiro por conta da necessidade de garantir o pagamento de salários na iniciativa privada. Mas, na ausência deles, o economista acredita que o buraco econômico aberto pelo coronavírus poderia ser maior.

“Os bancos públicos são essenciais nisso. Sem a existência de crédito deles hoje, a crise seria muito mais profunda. Já se avalia que, no mundo, a atividade econômica pode recuar de 20% a 30% só neste ano. É o FMI [Fundo Monetário Internacional] que tem dito isso”.

 

 

Edição: Leandro Melito