Minas Gerais

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COVID-19 em MG: "Estamos num navio afundando e sem comandante", critica sindicalista

Políticos, sindicalistas e movimentos questionam ausência de medidas efetivas de Romeu Zema para enfrentar epidemia

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
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Hospital Eduardo de Menezes, em BH, passou a atender apenas casos de coronavírus - Alexandra Marques / Fhemig

Acatando a orientação de Jair Bolsonaro e desobedecendo a recomendação de organizações de saúde e cientistas de todo o mundo, Romeu Zema (Novo) anunciou, no último dia 27, que vai estudar a reabertura dos comércios em Minas Gerais. No mesmo dia, o estado registrava 21.691 casos suspeitos e 189 confirmados do Covid-19.

Para justificar a medida, Zema escreveu em seu twitter que "nossa prioridade são as vidas, mas temos que pensar nos empregos". Cabe lembrar que logo no seu primeiro mês de mandato, esse mesmo governador retirou o emprego de seis mil mineiros.

O posicionamento do governador não é uma surpresa para os mineiros, já que mesmo diante da pandemia, Zema se mantinha inerte. O governador começou a ter uma postura mais ativa após as cutucadas e trocas de farpas com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) que cobrou publicamente uma postura mais incisiva do governo estadual.

Seguindo a cartilha de Bolsonaro, Zema não assinou a nova carta formulada pelo Fórum de Governadores, divulgada no dia 26, que reitera a necessidade de isolamento social, posição contrária à do presidente. Na avaliação de Danilo Militão, diretor do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Estadual de Minas Gerais (Sindifisco – MG), a sensação é de que o Estado é um navio afundando e sem um comandante.

Para o sindicalista, existem decisões importantes que não estão sendo tomadas. "Minas Gerais sempre foi um estado importante politicamente e economicamente, e agora está sem voz. O nosso governo se mostra sem capacidade de resolver as dificuldades que se apresentam, principalmente diante da magnitude que é esta epidemia gravíssima" critica.

Qual apoio Zema garante aos mineiros diante do Covid-19?

Para enfrentar a pandemia contra o coronavírus, Romeu Zema anunciou a destinação de R$ 50 milhões para a Secretária de Saúde. Para os mineiros de baixa renda, a única ação foi a postergação do pagamento das contas de água e energia. Ou seja, quem está com as contas da Copasa e Cemig em atraso vai poder quitar os débitos em abril sem a cobrança de juros. Também está suspenso o corte do fornecimento desses serviços até o dia 20/04.

Já para os empresários, Zema concedeu um desconto de 5% no preço do gás industrial e 5,95% no veicular. No entanto, para o consumidor comum nenhuma política foi ofertada.

Para se ter uma ideia, nos estados vizinhos, que também estão sob gestão de governos de direita, as medidas foram bem mais significativas. Em São Paulo, João Dória (PSDB) anunciou R$ 309 milhões para ajudar as prefeituras a combater a epidemia, além de manter o isolamento social. O Estado também está oferecendo uma política de merenda em casa para os alunos da rede.

No Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) também vai manter a política de distanciamento. O estado anunciou o repasse de R$ 140 milhões para os municípios. E suspendeu, por três meses, a cobrança da conta de água para consumidores classificados na tarifa social.

Na avaliação de Jeferson Silva, coordenador do Sindicato dos Eletricitários de Minas Gerais - Sindieletro/ MG, as medidas não atendem à demanda das famílias mineiras.  Para o dirigente, a falta de políticas adequadas para superar a crise tende a agravar a situação. “Por de trás dessas medidas mostra-se uma intencionalidade de garantir a receita das empresas para fazer a distribuição dos dividendos. É uma posição que valoriza o mercado em detrimento das condições de vida da população mineira", pontua.

Mas afinal o que poderia ser feito?

Tabelar o preço do botijão de gás de 13 kg em R$ 40,00, congelar o aumento da tarifa de energia, suspender a cobrança do fornecimento de água e energia durante o enfrentamento à pandemia. Essas são algumas das medidas propostas pelo Movimento dos Atingidos (MAB).

A organização, que atua na luta pelo soberania popular em bens naturais, questiona a postura do governador diante de uma crise tão grave. Sonia Mara Maranho, coordenadora do MAB exemplifica que o custo da produção da energia elétrica na Cemig é R$ 8 o megawatt. No entanto, os mineiros pagam quase mil reais por mega. "Por que o governo não compra briga com os acionistas e rentistas da Cemig? E deixa a nossa estatal de fato à serviço do povo mineiro?" questiona.

Para ela, outra medida imediata que deveria ser adotada pelo governo é o fim da desoneração fiscal para grandes empresas, como as mineradoras. “Somente em Minas Gerais são R$ 6,6 bilhões que o governo dá de isenção de imposto para grandes empresas. Então tem que ter uma taxação dessas grandes fortunas que são acumuladas através do nosso trabalho. É hora de colocar a vida acima do lucro", afirma a militante.

Edição: Joana Tavares