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Coluna | Observatório dos conflitos relata protestos em período de quarentena

Confira o resumo dos principais protestos ocorridos em Curitiba e Região Metropolitana em março

Curitiba |
Panelaços marcaram protestos no mês de março - Divulgação

Esta é a coluna de março de 2020 do Observatório dos Conflitos Urbanos de Curitiba, com o resumo dos principais protestos ocorridos em Curitiba e Região Metropolitana ao longo do mês de março. O Observatório é composto por professores e pesquisadores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR).


Protestos em tempos de isolamento social
As transformações no cotidiano decorrentes das medidas de segurança determinadas pelo Ministério da Saúde, pela Covid-19, também alcançaram a dinâmica de manifestações no mês de março. Visando evitar aglomerações, considerando que o isolamento (distanciamento) social é uma das principais recomendações dos profissionais de saúde, protestos como a Greve Geral de 18 de Março e o Dia de Ações por Marielle e Anderson foram alterados. Manifestações contrárias e favoráveis aos pronunciamentos do presidente Jair Bolsonaro também evidenciaram novos repertórios de protesto.

Panelaços

As convocações para os atos de rua em nome da Greve Geral de 18 de Março pela defesa dos serviços públicos e da democracia e contra a Reforma Administrativa proposta pelo Governo Federal foram substituídas pelos chamados  “panelaços”.

Foram registradas diversa manifestações desse tipo durante o mês, que ganharam força após o pronunciamento oficial do presidente Jair Bolsonaro sobre o coronavírus no dia 17. Bolsonaro categorizou a reação ao vírus como histérica e que iria “fazer uma festa” no sábado (21), em comemoração ao seu aniversário de 65 anos, ignorando as recomendações sobre evitar aglomerações e reduzir o contato social frente à crise sanitária.

Após as reações ocorridas em algumas cidades brasileiras no  dia 17 durante o pronunciamento oficial do presidente, os panelaços ganharam força no dia 18, às 20h30, com registro de manifestações em diversos bairros de Curitiba e Região Metropolitana. Ainda no dia 21, às 20h, foi registrado um protesto, convocado pelas redes sociais pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, além de outros movimentos e organizações. Nas três datas ouviram-se  palavras de ordem como “Fora, Bolsonaro” e, também, a convocatória defendendo o SUS e a criação de um plano emergencial de assistência popular, incorporando pautas relacionadas à crise da Covid-19. Outro panelaço registrado ocorreu no dia 31, durante outro pronunciamento do atual presidente, com o mote: “O Brasil precisa parar Bolsonaro”, dias após Bolsonaro sair às ruas do comércio do Distrito Federal, provocando algumas aglomerações ao continuar ignorando as recomendações do Ministério da Saúde de seu próprio governo. Com a restrição de ficar em casa, tem-se observado novas técnicas como projeções em prédios, músicas e piscar de luzes, que diversificam os repertórios tradicionais das manifestações.

Coronavírus: empresários organizam carreata e funcionários pedem paralisação

Em Curitiba, empresários e comerciantes organizaram carreata no dia 27, utilizando as redes sociais. A convocação ganhou o slogan “vamos isolar nossos idosos e tratar os enfermos, o resto tem que voltar pra guerra”, também seguindo as palavras do presidente Jair Bolsonaro, que já demonstrou insatisfação com a decisão de paralisação tomada pelos governadores, reverberando manifestações de diversos empresários em todo o país. A carreata teve início no bairro Bigorrilho e circulou pelas principais ruas do centro da capital; segundo os organizadores, aproximadamente 500 motoristas participaram.

Na manhã de 20 de março, funcionários de uma empresa de telemarketing localizada no bairro São Francisco, em Curitiba, recusaram-se a entrar no estabelecimento e pediram a paralisação das atividades devido à epidemia do coronavírus. Alguns funcionários constataram a falta de medidas de prevenção no ambiente, janelas fechadas, ausência de álcool em gel para higienização e a alta proximidade física entre funcionários. Paulo Henrique, um dos funcionários, relatou que colegas de trabalho já foram afastadas com suspeita da doença. Em nota, a empresa informou que adotou novas medidas para garantir a saúde dos funcionários e a continuidade do serviço prestado, prometeu maior higienização, postos de trabalho individuais e home office para possíveis setores, entre outras medidas.


Curitibanos participam de ato pró-Bolsonaro

Apoiadores de Bolsonaro saíram às ruas de diversas cidades para demonstrar apoio ao presidente, no dia 15 de março.  As manifestações se declararam contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). Em Curitiba, também houve a realização do ato, contrariando as recomendações da Secretaria de Saúde sobre evitar aglomerações acima de 500 pessoas. Em face de tensionamentos entre Bolsonaro e diversas forças políticas (da base do governo e de oposição), o presidente fez declarações sugerindo atos "a favor do Brasil". A disputa pelo controle do orçamento federal com o Congresso, o anúncio do baixo crescimento do PIB e a morte de Adriano da Nóbrega (envolvido no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes), entre outros fatores, compunham o quadro de tensões.

Um dos organizadores na capital paranaense, Éder Borges, declarou que a manifestação não era exatamente contra o Congresso, mas para demonstrar apoio a Bolsonaro, afirmando que ele precisa governar sem a "politicagem antiga". Entre os grupos organizadores do ato estão “Avança Brasil”, “República de Curitiba” e “Acampamento Lava Jato”.


Ato por Marielle

No dia 14 de março (sábado), seriam realizados movimentos lembrando o assassinato de Marielle Franco, mas acolhendo as medidas de segurança para controle da pandemia de Covid-19, a organização convocou “um grande amanhecer por Marielle e Anderson”, na manhã do sábado, com o seguinte pedido: “Pendure uma faixa, lenço, pano amarelo ou girassol na sua janela ou laje ou varanda a partir das 7h deste sábado”. A publicação também pediu que os apoiadores do ato publicassem uma foto em suas redes sociais com a hashtag #JustiçaPorMarilleEAnderson.


“#LutoPelaCarol”

Cerca de 200 manifestantes, sobretudo colegas, moradores da região e familiares da vítima queimaram pneus e ocuparam parte da Avenida Pedro Viriato Parigot de Souza (CIC), na quinta-feira (12), em protesto pela morte da estudante Caroline Beatriz Olimpio, de 19 anos. A estudante da UTFPR foi atravessar a avenida em direção à Universidade Positivo, quando foi atingida por carro que disputava um “racha”. Os manifestantes pediram por justiça e por uma solução de segurança viária para a região. Segundo os estudantes da UTFPR, são frequentes as passagens de veículos em alta velocidade no local e requerimentos para instalação de sinaleiro ou passarela já haviam sido feitos à prefeitura. O Ministério Público do Paraná (MP-PR) denunciou, no dia 24, os dois motoristas suspeitos de atropelar e matar Caroline.  A prefeitura de Curitiba instalou semáforo na região, que se encontra em fase de testes.

Esse protesto ocorreu apenas alguns dias depois de outra manifestação relacionada à segurança viária. O Movimento de Luta pela Moradia reivindicou sinalização e instalação de lombadas na Estrada Velha do Barigui, em trecho próximo à Comunidade Dona Cida, na Cidade Industrial de Curitiba. Segundo os moradores, a rua, recentemente asfaltada, tem grande trânsito de caminhões em alta velocidade.

“Mulheres da favela exigem paz”: o Dia Internacional da Mulher ocorre fora do eixo central

A programação do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, aconteceu no bairro Parolin, pela primeira vez fora da região central de Curitiba. O ato “Mulheres da favela exigem paz” realizou performances que traziam temas específicos da vida das mulheres: parto humanizado, feminicídio, as lutas por moradia e saúde. O preconceito que as mulheres das favelas enfrentam para conseguir emprego e as desigualdades no mercado de trabalho foram denunciadas, além da reivindicação de educação pública, gratuita e de qualidade para todas as pessoas. Carregando cartazes com fotos do prefeito Rafael Greca (DEM) e do governador Ratinho Junior (PSD), outros problemas foram levantados: o déficit de moradias, as condições precárias de infraestrutura e falta de vaga nas creches. O ato foi organizado por mulheres do bairro periférico Parolin, juntamente com entidades e movimentos populares.


Recriação da Secretaria de Cultura

A Secretaria de Cultura do Estado completaria 40 anos de existência em 2020, não fosse a sua extinção pelo governador Ratinho Júnior. A cultura, que já foi acoplada à de Comunicação Social, agora faz parte da Secretaria de Educação. Caio Cesário, Secretário da Cultura de Londrina, diz que “a cultura tem a face simbólica, social e econômica. Quando ela é acoplada em outra secretaria, sempre ficará faltando uma parte a ser atendida”. Assim, mais de 500 artistas e gestores culturais assinaram uma carta reivindicando a recriação da Secretaria de Cultura do Estado do Paraná, e a apresentaram em reunião com o vice-governador, no dia 11. O vice-governador informou aos presentes que uma conversa foi feita com o governador Ratinho Junior e que, nos próximos dias, uma resposta será dada à classe artística.

Edição: Frédi Vasconcelos