Música

Moraes Moreira: Brasil perde um mestre da diversidade

Músico faleceu nesta segunda-feira (13) em casa e deixa legado de clássicos e obras-primas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Moraes Moreira em entrevista ao projeto Produção Cultural no Brasil - Foto: Garapa

O músico Moraes Moreira morreu às 6h desta segunda-feira (13) aos 72 anos, em sua residência no bairro da Gávea, Rio de Janeiro. Moreira sofreu um infarto agudo do miocárdio. A família não vai divulgar hora nem local para despedidas em respeito ao momento de pandemia do novo coronavírus. Os familiares pedem que, quem quiser homenagear o músico, o faça ouvindo a obra dele.

 Umas das grandes vozes da Música Popular Brasileira, ele fez parte do lendário grupo Novos Baianos e é responsável por clássicos como Brasil Pandeiro, Acabou Chorare, Dê um Rolê, entre  centenas de outras composições.

Natural da cidade de Ituaçu (BA), considerada o Portal da Chapada Diamantina, Moraes Moreira começou sua trajetória como instrumentista aos doze anos, tocando sanfona em festas da região. Em um texto autobiográfico, disponível no site do artista, ele narra a paixão pela música.

Ainda criança, já era despertado pelo som das bandas de música, pelas madrugadas que antecediam a festa da Padroeira. Eram as alvoradas. Tubas, trompas, trompetes, clarinetes e flautins no toque da caixa, lindos dobrados rompendo o silêncio, entrando em meu sonho. Fogos de artifício explodiam no ar. Logo corria pra rua, e atrás da banda andava e admirava todos aqueles instrumentos e seus sons maravilhosos.

A diversidade de repertório, que sempre marcou a carreira do músico, foi construída a partir dessas experiências e das músicas que ele ouvia no sistema de som em alto-falante da praça da cidade.

Angela Maria, Dalva de Oliveira, Luiz Gonzaga, Herivelto Martins, foram os responsáveis por iniciar a paixão. Ainda adolescente havia aprendido a tocar violão, enquanto cursava o  científico (atual ensino médio), na cidade de Caculé. Mas foi em Salvador, que Moraes Moreira conheceu o rock. Chegou às guitarras com o novo ritmo, que foi apresentando a ele pelo amigo Tom Zé.


Carlos Latuff homenageira Moraes Moreira em charge / Carlos Latuff

Os Novos Baianos vieram alguns anos depois, quando o músico conheceu Paulinho Boca de Cantor, Luiz Galvão, Baby Consuelo e Pepeu Gomes. Juntos, eles foram responsáveis por uma verdadeira revolução na MPB. O grupo era também uma comunidade alternativa e dividia o mesmo espaço comunitário, inicialmente em um sítio no Rio de Janeiro e posteriormente em uma fazenda em São Paulo.

O álbum Acabou Chorare, de 1972, composto quase que totalmente por Moraes Moreira e Galvão, foi considerado pela revista Rolling Stone como o maior disco da música brasileira. O disco representou uma guinada do grupo para os elementos da música brasileira, influenciados por João Gilberto, que fez uma visita aos Novos Baianos no apartamento que mantinham no Rio.

Carreira solo e trio elétrico

Em carreira solo a partir de 1975, Moreira é considerado o primeiro cantor de trio elétrico do Brasil. Por alguns anos, o Trio de Dodô e Osmar e o Carnaval de Salvador foram os palcos de Moraes Moreira, que continuou se destacando e lançando sucessos. São dessa época Pombo Correio, Vassourinha Elétrica e Bloco do Prazer.

O músico  tem mais de 40 álbuns e, durante toda a carreira, viajou por ritmos como baião, samba, choro,  frevo, rock e até pela música erudita. Seu último projeto, o show Elogio à inveja – as canções que eu queria ter feito, reúne composições de artistas admirados por Moraes Moreira, desde a década de 1920.

Edição: Leandro Melito