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Os efeitos da água de coco nos gringos e no bairrismo brasileiro

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O coco-da-bahia não é da baia, mas é mais baiano que muita gente que nasceu por lá - Foto: Louis Hansel @shotsoflouis/Unsplash
Era isso que Deus queria inventar quando criou a água

Sempre gostei de gente que produz comida, seja o agricultor que planta com consciência os alimentos que consumimos ou a cozinheira do boteco que fica contente quando o cliente gosta da comida que ela faz.

Mas tem gente que não reconhece o valor de quem cozinha.

E tem gente que gosta de comida feita por pessoas que fazem pose de artistas e são chamadas de chefs. Eu continuo gostando da cozinheira ou do cozinheiro simples, que quase sempre ganha pouco, mas sente prazer em nos alimentar.

Há muito tempo já existiam programas de televisão sobre comida, mas agora está até demais. E com chefs cheios de onda, contando papo de experiências no exterior, falando que trabalhou em Paris ou Nova York, e fazendo umas comidas que às vezes não me atraem nem um pouquinho.

Mas o que eu queria chegar é a um chef gringo que tinha um programa de televisão que chegou ao Brasil lá por volta de 1990. Chamava-se John Smith.

Fez tanto sucesso aqui que um dia foi trazido para conhecer o Rio de Janeiro (RJ). Lá, deram a ele um coco gelado com um canudinho. Ele nunca tinha bebido água de coco.

Ficou maravilhado. Disse, algo mais ou menos assim: “era isso que Deus queria inventar quando criou a água”.

Realmente, água de coco é gostosa e faz bem. E o próprio coco também é ótimo.

Uma curiosidade: aqui, chamamos essa fruta de coco-da-bahia, mas ele não é baiano de origem, nem brasileiro. Foi trazido do Sudeste da Ásia. Os primeiros europeus a conhecerem o coco foram os da expedição de Vasco da Gama, que chegou à Índia em 1498.

Mas o coco se deu tão bem aqui, que parecia até ser baiano de nascimento.

Por falar nisso, na época em que a gente viajava muito de carona, um amigo que passou uns dias em Salvador (BA) ficou apaixonado pela cidade, e para voltar a São Paulo (SP) pegou uma carona de caminhão.  Não parava de falar das maravilhas da Bahia.

Só que o caminhoneiro era sergipano e não gostava nem um pouquinho da Bahia.

Isso existe. Por melhor que seja um lugar ou alguma coisa, tem quem não goste. Pois é, esse caminhoneiro era assim... Odiava a Bahia. Uma hora ele cortou a fala elogiosa do meu amigo e disse com cara de brabo:

- Na Bahia tem três coisas boas.

Meu amigo estava tão nas nuvens que não percebeu a irritação do motorista. Perguntou quais eram essas três coisas, e o motorista sergipano falou:

- A água de coco, o coco e a hora de ir embora.

 

Edição: Lucas Weber