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Uma boa mentira se aprende em casa

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Mais uma vez, Mouzar Benedito traz em sua coluna causos que só no interior de Minas Gerais podem acontecer - Foto: Toa Heftiba/Unsplash
Em uma pequena cidade do sul de Minas alguns mentirosos resolveram organizar um concurso de mentiras

Em tudo quanto é cidade pequena do interior, nos meus tempos de jovem, tinha um sujeito que era considerado “o mentiroso oficial da cidade”. E geralmente o mentiroso não admitia que falava mentiras. Uns até partiam pra briga quando desmentidos.

Já falei de mentirosos aqui, falo mais uma vez.

Tem mentiroso que gosta de contar mentiras e que todo mundo saiba que ele é um mentiroso de marca maior, bom pra inventar absurdos.

Contam – mas ninguém prova – que numa pequena cidade do sul de Minas alguns desses mentirosos resolveram organizar um concurso de mentiras.  E que foi um concurso e tanto. Concorrido, com craques na arte de mentir, inventando maluquices.

Muita gente de fora, até de São Paulo, participou contando mentiras cabeludas pra tentar ganhar o primeiro prêmio, que não me contaram o que era. Quer dizer, contaram, mas um disse que era um arreio; outro, que era um cavalo de raça, e outro, um fogão. Cada um dizia uma coisa. Afinal, estamos falando de mentirosos, né?

O concurso teve várias fazes, até sobrar só dois mentirosos para a grande final. Deram quinze dias de prazo para cada um inventar uma mentira cabeluda, que deveria ser contada num salão de auditório, num sábado à noite. O público, que com certeza lotaria o auditório, votaria na melhor mentira.

Os dois finalistas eram um velho da cidade e outro de São Paulo.

O paulista resolveu fazer uma espionagem para descobrir o que o mentiroso mineiro ia contar, e foi pra lá no fim de semana anterior. Iria conversar com o sujeito como quem não quer nada e tentar arrancar alguma pista dele.

Pegou a mulher e foi.

O mentiroso local morava num bairro quase separado da cidade. O paulista foi lá e perguntou a um menino que brincava na rua:

— Ô, menino, você conhece o seu Chico Porteira?

— É o meu vô — respondeu o moleque.

— E onde é que ele mora?

O menino informou:

— É ali adiante... Mas num adianta ir lá que ele tá viajando.

O sujeito perguntou pra onde o tal Chico Porteira tinha viajado, e o neto respondeu:

— Pro Paraná... Ele comprô um enxame de abeia e veio fartando uma. Ele foi buscá.

O homem ficou pálido, virou-se pra mulher e falou:

— Vamos embora que eu já perdi. Se o neto desse tamanhinho conta uma mentira dessas, imagine o avô.

 

Edição: Lucas Weber