Coluna

Cicatriz na testa pode ser sinal de mentiras mal contadas

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Em mais um causo de Mouzar Benedito, o colunista traz uma história de um amigo que bebia demais, o que lhe trouxe problemas com sua esposa - Foto: Andrew Tanglao/Unsplash
A esposa, braba, deu-lhe uns tapas, tirou o sapato de salto alto e deu-lhe uma sapatada na cabeça

Há muitos anos, um juiz do Trabalho em São Bernardo do Campo tinha um hábito estranho. Nas audiências, de vez em quando se abaixava de lado até ficar com a cabeça abaixo da mesa.

As pessoas em frente não sabiam porque ele fazia isso. Até que descobriram que ele mantinha um copão cheio de cachaça no chão, e quando se abaixava era para molhar o bico com a "marvada" sem que os outros vissem.

Ficou conhecido como “Juiz Boca Seca”. Inspirados nele, pusemos num jornalista amigo, chamado Sérgio, o apelido de “Serginho Boca Seca”. Enquanto trabalhava, dava uns goles também.

E depois que saía do trabalho, parava num bar e bebia todas. Um dia encontrei com o Serginho e ele estava com um baita curativo no alto da testa. Perguntei o que tinha acontecido, ele disse que uns dias antes bebeu muito à noite, e foi embora meio bêbado. 

Bateu o carro, entrou de cabeça no espelho retrovisor, teve um corte grande e foi parar no pronto-socorro. 

Acreditei.

Passados uns dias, encontrei com um amigo comum, o Osvaldo, e ele me contou que o Serginho chegou em casa bêbado uma noite, a Márcia, mulher dele, braba, deu-lhe uns tapas, tirou o sapato de salto alto e deu-lhe uma sapatada na cabeça. E ela mesma teve que levar o marido ao pronto-socorro.

Pensei: que sacana, me enganou. 

Duas semanas mês depois, num sábado, fui à casa do Osvaldo tomar umas cervejas e conversar com um bando de amigos, e quando estava acabando a cerveja o Serginho Boca Seca chegou com a Márcia.

O Serginho foi logo pegando uma sacola e enchendo de garrafas vazias que seriam trocadas por outras cheias, e chamou o Osvaldo e eu para ir com ele à padaria. Geralmente, quando a gente ia comprar bebida, tomava umas no próprio bar, antes de voltar com a sacola cheia. Mas desta vez fui logo avisando:

- Vamos... Mas não vamos beber nenhuma lá. Não quero chegar aqui de volta e levar uma sapatada na cabeça. 

Ficou um clima bem ruim. A Márcia tinha contado só pra Darci, mulher do Osvaldo, que tinha dado a sapatada no marido, pedindo segredo.

A Darci contou só para o marido, pedindo segredo também. E ele contou só pra mim, mas não falou que era segredo. Assim, sem querer, revelei pra todo mundo que aquele rasgo na cabeça do Boca Seca foi uma sapatada da mulher dele. Bom, se deixei algumas pessoas constrangidas, fiz a alegria de um bando de gozadores.

 

Edição: Lucas Weber