Paraná

CRISE

Economia sofrerá o maior baque deste século, com ou sem fechamento de cidades

Presidente tenta jogar culpa em governadores e prefeitos porque desastre é iminente

Curitiba (PR) |
Falta de renda e atraso na entrega do auxílio emergencial aponta para cenário catastrófico na economia - Giorgia Prates

Qualquer previsão feita no começo de 2020 para a economia não vale mais nada por conta da pandemia. Mas até antes do primeiro caso oficial registrado no Brasil de coronavírus, em 26 de fevereiro, os sinais eram ruins. O PIB de 2019, primeiro ano de Bolsonaro, foi de verdadeira estagnação,de 1,1%, deixando a economia do Brasil do tamanho que tinha em 2013.

Pra quem não se lembra, o dólar já estava em R$ 4,43 quando apareceu o primeiro caso. Além do que, nos números fechados recentemente,
o desemprego formal já estava subindo. Tinha chegado a 11,6% no trimestre encerrado em fevereiro, segundo dados do IBGE, com 12,3 milhões de desempregados. Cerca de meio ponto percentual a mais que no trimestre anterior, ou 60 mil pessoas a mais na rua. Sem contar queda de renda e os recordes de trabalhadores informais gerados pelas reformas trabalhistas, com cerca de 36 milhões de pessoas nessa situação no fim de fevereiro.

Com a crise do coronavírus, tudo piorou. No fechamento desta edição, o dólar estava próximo dos R$ 6. A arrecadação do governo federal teve queda real de 3,32% em março em comparação com o mesmo mês do ano anterior, com os primeiros impactos do coronavírus na economia. E a previsão do
secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, em meados de abril, é que o déficit primário do governo federal em 2020 pode chegar a 600 bilhões de reais ou 8% do PIB. A previsão no final de 2019 era de déficit inferior a R$ 100 bilhões. Agora, há quem fale até em R$ 1 trilhão, dez vezes mais.

Outro sinal da tempestade econômica que vem por aí é que os pedidos de seguro-desemprego de quem tinha carteira assinada subiram 22,1% em abril, chegando a 748 mil benefícios requeridos.

ESTRATÉGIA DE TRUMP

Tal como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Bolsonaro aposta num discurso contra o isolamento social para “salvar a economia” e para tentar se desvincular da grave crise econômica. Jogando para governadores e prefeitos a responsabilidade do que já estamos enfrentando em todo o mundo e que depende pouco de as cidades ficarem fechadas em maior ou menor proporção.

Em entrevista ao jornal “El País”, o economista e professor em Harvard, Kenneth Rogoff, afirma: “Parece que nos dirigimos a uma profunda recessão global, com um tamanho nunca visto desde a Grande Depressão”, diz. “Esperemos que seja muito mais curta. Ainda que a rapidez da saída dependa de como o vírus se desenvolva e a resposta do sistema de saúde. Mas, até mesmo no melhor dos casos, a situação é terrível aos mercados emergentes.”
 

Edição: Gabriel Carriconde