Rio Grande do Sul

PANDEMIA

Conselho da Faculdade de Farmácia divulga nota sobre o uso da cloroquina na covid-19

Integrantes do Conselho da UFRGS reforçam a falta de evidências científicas sobre a eficácia do medicamento

Porto Alegre | BdF RS |
Conselho se posiciona de forma contrária ao uso da cloroquina e da hidroxicloroquina em pacientes com sintomas leves da doença - Arquivo Secom

O Conselho da Unidade da Faculdade de Farmácia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) publicou uma nota sobre as orientações para manuseio medicamentoso de pacientes com diagnóstico da covid-19 divulgadas na última semana pelo Ministério da Saúde. Na nota, aprovada em reunião na última sexta-feira (22), os conselheiros se posicionam de forma contrária ao uso da cloroquina e da hidroxicloroquina em pacientes com sintomas leves da doença.

Em sua manifestação, o Conselho da Faculdade de Farmácia argumenta que faltam evidências científicas sobre a eficácia terapêutica desses medicamentos no tratamento da covid-19 e alerta que os efeitos adversos podem oferecer risco ao paciente que não esteja em acompanhamento clínico. O documento também ressalta que as decisões terapêuticas e as estratégias de controle da pandemia do novo coronavírus devem ser pautadas pela racionalidade e totalmente embasadas em conhecimento técnico e científico.

Confira a íntegra da nota:

O Conselho da Unidade da Faculdade de Farmácia, reunido remotamente no dia 22 de maio de 2020, vem a público manifestar-se em relação às Orientações para Manuseio Medicamentoso Precoce de Pacientes com Diagnóstico da covid-19, recomendadas pelo Governo brasileiro, por meio do Ministério da Saúde (MS), no dia 20 de maio de 2020. Nestas, o MS indica a prescrição dos medicamentos sulfato de hidroxicloroquina e difosfato de cloroquina, especialmente no que se refere ao manejo de sinais e sintomas leves de covid-19, resultantes da infecção pelo vírus SARS-Cov-2.

Na sua missão de orientar as políticas de formação de profissionais farmacêuticos sob a ótica da ciência e dos valores éticos, este Conselho entendeu ser necessário posicionar-se contrariamente às orientações do MS considerando os fatores destacados a seguir:

• Nenhuma evidência científica aponta, até o momento, para a eficácia terapêutica do sulfato de hidroxicloroquina ou do difosfato de cloroquina no tratamento da covid-19. Ao contrário, os estudos publicados nos principais periódicos científicos do mundo mostram a ineficácia desses medicamentos no tratamento de covid-19. E a ausência de comprovação científica é destacada no documento do próprio MS, no 2º parágrafo, onde se lê: Considerando que até o momento não existem evidências científicas robustas que possibilitem a indicação de terapia farmacológica específica para a covid-19.

• Os efeitos adversos conhecidos, resultantes do uso de tais medicamentos, são importantes – destacando-se as alterações cardiovasculares, que podem provocar arritmia cardíaca; os distúrbios visuais e gastrointestinais, as alterações neurológicas, entre outros – e colocam em risco os pacientes sem acompanhamento clínico.

• Diferentemente do observado nas outras doenças para as quais esses medicamentos estão aprovados, muitos pacientes acometidos pela covid-19 apresentam como comorbidade doenças cardiovasculares. Tais comorbidades aumentam ainda mais o risco de reação adversa aos medicamentos em pauta, podendo evoluir a óbito.

• O Termo de Ciência e Consentimento, necessário para que o médico prescreva os medicamentos, expõe uma relação risco-benefício claramente desfavorável ao paciente, para resguardar o prescritor.

Por fim, ressalta-se que, em uma situação de impacto severo e sem precedente na saúde pública global, todas as decisões terapêuticas, além das estratégias de controle da disseminação da pandemia, devem ser pautadas pela racionalidade e com total embasamento técnico científico. Afastar-se da Ciência em um momento como este não somente resultará em crescimento da mortalidade, mas também abrirá um precedente temerário em futuros desafios que envolvam a saúde pública no Brasil.

Documento embasado nas mais atuais evidências científicas e aprovado pelo Conselho da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Edição: Katia Marko