Mineração

Com 200 casos de covid-19, Vale em Itabira (MG) é interditada por fiscais do Trabalho

Vale afirma que juiz já determinou retorno das atividades da empresa, decisão ainda desconhecida pelos auditores fiscais

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

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Imagem meramente ilustrativa de trabalhadores da mineração sendo conduzidos por ônibus da empresa - AFP

Auditores fiscais do Trabalho interditaram, na quarta-feira (27), o complexo minerador da Vale em Itabira (MG) por apresentar quase 200 trabalhadores próprios e terceirizados com teste positivo para covid-19, algo em torno de 9% dos testados. Segundo a auditora fiscal Odete Reis, que participou da inspeção na última segunda, no complexo — onde trabalham cerca de 5 mil pessoas — foram detectadas diversas irregularidades que colocam os trabalhadores em situação de grave e iminente risco.

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Em nota, a Vale afirma que tomou conhecimento da interdição e, imediatamente, ajuizou uma ação anulatória com pedido de liminar, o que foi deferido pelo juiz da 2ª Vara de Itabira, determinando a manutenção de todas as atividades da Vale no complexo. Além disso, a empresa afirma que, em todas as suas operações, adotou padrões de segurança e colocou em prática diversas ações para proteger seus empregados.

“A Vale reforça que tem o compromisso de cuidar da saúde e da segurança de seus empregados, observando rigorosamente todos os protocolos exigidos pelo Ministério da Saúde”, diz o texto. Até o fechamento desta matéria, a auditoria fiscal do Trabalho não havia sido notificada sobre essa decisão.

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Irregularidades da Vale em Itabira

Uma das irregularidades identificadas pela auditora fiscal é a aglomeração de trabalhadores nas rodoviárias, onde chegam os ônibus da cidade e ficam as vans que levam as pessoas até as frentes de trabalho. O complexo é formado por três minas — Conceição, Cauê e Periquito — e em cada uma delas há uma rodoviária.

“A gente presenciou duas trocas de turno, um por volta das 13h; e, em outra mina, por volta das 17h30. Nesses momentos, os trabalhadores que estão chegando e os que estão voltando das frentes de trabalho, e aí vão bater ponto, vão ao banheiro, vão encher o cantil com água ou pegar o álcool e a flanela para limpar os equipamentos, transitam por ali no mesmo espaço, provocando aglomeração”, conta.

Outra irregularidade encontrada pelos auditores são as vans utilizadas, que não garantem a distância mínima de um metro, recomendada pelos órgãos de saúde. Apesar de ter uma marcação nos assentos que podem ser utilizados, o que é respeitado pelos trabalhadores, segundo Odete, eles ficam cerca de 60 centímetros de distância um do outro.

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Exigências

Segundo Odete, entre as exigências apontadas no relatório estão o afastamento imediato de todos trabalhadores, sejam próprios ou terceirizados; a realização de um programa de vigilância epidemiológica, para investigar a concentração de casos; e a manutenção da testagem periódica de todos os empregados e isolamento de casos positivos.

Além disso, a mineradora deve tomar medidas para evitar aglomeração, a exemplo da adoção da prática de turnos escalonados, do aumento do distanciamento dos trabalhadores nas vans e da criação de protocolos sobre a utilização de máscaras e sobre a higienização dos equipamentos e maquinários.

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Elis Almeida e Camila Maciel