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Artigo | Construir a resistência com criatividade para salvar vidas

Não queremos voltar à "normalidade" de desigualdade, exclusão e ataque aos nossos direitos

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
"É fundamental organizar a força da esquerda como alicerce para uma mudança no cenário político" - Mídia Ninja

Estamos vivendo um dos piores momentos na conjuntura política brasileira. Com um governo eleito graças às fakenews e ao impedimento do candidato que liderava as intenções de voto, o Brasil vive sua pior crise. Em condições normais, Lula teria sido eleito presidente novamente e nossa história certamente seria outra.

A direita brasileira estimulou o ódio ao PT buscando a reabilitação do seu projeto e lideranças, e o que conseguiu foi jogar água no moinho da extrema-direita e eleger um presidente fascista. Agora divide-se entre domar e se distanciar da sua criatura e não apresenta saída para a crise em que nos meteram.

Mas qual o papel da esquerda nesse momento de tantas frentes e manifestos?

Em primeiro lugar é fundamental organizar a força da esquerda como alicerce para uma mudança no cenário político. É preciso que os partidos de oposição (PT, PC do B, PSOL, PDT, PSB, Rede), as Frentes Brasil Popular e Povo sem medo, as centrais sindicais, a religiosidade progressista e a forças atuantes na sociedade civil consolidem efetivamente uma plataforma política e uma tática unitária.

Os vários pedidos de impeachment apresentados pelos partidos de oposição demonstram que todos apontam para um mesmo objetivo: impedir imediatamente esse governo criminoso. É possível e necessário colocar de lado os projetos de poder de cada uma dessas siglas e apostar numa plataforma comum centrada na defesa da vida, da democracia e dos empregos.

As manifestações puxadas pelas torcidas organizadas e pelo movimento negro no último final de semana, muitas delas reconvocadas para o próximo domingo, nos colocam uma segunda discussão fundamental: como essa unidade partidária, sindical e popular pode e deve se expressar socialmente em meio a pandemia? Ir ou não para as ruas?

Nessa semana o Brasil chegou à trágica marca de mais de meio milhão de casos confirmados e mais de 31 mil mortes pelo covid-19. Na terça (2) um triste recorde: 1.262 mortes em apenas 24 horas. E o pior é que sabemos que esses números não representam toda a realidade, dado o baixo número de testes feitos no Brasil e a alta subnotificação de casos. Esses números são causa e consequência de uma realidade absurdo de esgotamento das capacidades de hospitais e UTIs em todo o país, particularmente na rede pública do SUS.

A esse quadro terrível na questão sanitária soma-se o drama social e econômico da população mais pobre. O Auxílio Emergencial de R$ 600 tem deixado muitos que necessitam de fora e mesmo os que têm o direito reconhecido enfrentam inúmeras dificuldades para acessar o benefício. Já está claro que três meses não farão frente à gravidade dessa crise. Mesmo assim o governo fala em reduzir o auxílio para míseros R$ 200, conforme propunha inicialmente.

Diante de tudo isso o presidente da República segue nos oferecendo espetáculos diários de ignorância, bravatas, indiferença e crueldade. A última foi, mais uma vez, diminuir a dor de milhares de famílias que perderam seus entes ao referir-se aos mais de 30 mil mortos: " é o destino de todo mundo", disse.

Num cenário em que, sob qualquer aspecto, as notícias não são boas é mais do que natural a indignação popular. Essa indignação se manifesta das formas mais espontâneas e, por vezes, menos seguras. É antes um sintoma agudo frente a uma realidade insuportável do que uma luta social organizada em torno de uma agenda política.

O abandono, a exclusão, o autoritarismo, a certeza de ser um alvo a ser abatido chega primeiro para quem historicamente vive esse cotidiano. Seja nos Estados Unidos, seja no Brasil é a população negra e periférica que, há muito tempo, é vítima da pobreza, da exclusão, do trabalho precário e da violência policial. É por isso que essa indignação se expressa como uma luta antirracista e antifascista. Em meio a essa crise, reagir é um instinto de sobrevivência. E diante disso, surge a polêmica.

Devemos construir e participar ou não dessas mobilizações?

O Brasil é um país continental. Por isso os números de infectados e o crescimento da contaminação pelo coronavírus são muito diferentes de um estado para outro. No entanto a sobrecarga no sistema de saúde é geral e todos já conhecemos as formas como a doença tem se propagado.

Em vários estados e cidades o distanciamento social segue sendo um imperativo para salvar vidas. E por isso continua sendo perigosa e irresponsável a convocação de atos que gerem aglomerações.

Não podemos fazer exatamente o que temos combatido e criticado tanto no discurso e na prática de Bolsonaro e seus seguidores. Nosso caminho deve ser o de reforçar, com seres humanos e não robôs, nossa pressão nas redes sociais pelo Fora Bolsonaro e para que o Congresso paute os pedidos de impeachment.

Podemos realizar também ações simbólicas da nossa luta nas ruas com a fixação de faixas, cartazes e a colagem de adesivos que deem visibilidade a opinião majoritária da sociedade de repúdio a esse governo, além dos já existentes panelaços, barulhaços organizados em todo Brasil.

Temos responsabilidade com a vida do povo e da militância. Por isso devemos preservar nossa saúde coletiva para as batalhas que se avizinham. Precisamos dedicar energia para ajudar o povo e nos colocar juntos de quem mais precisa de apoio nesse momento por meio das inúmeras ações de solidariedade.

É possível e necessário que partidos e organizações de esquerda adotem o caminho da manifestação responsável. Sem se distanciar da indignação daqueles que tem ido às ruas em repúdio a Bolsonaro e sua horda fascista. Temos de nos posicionar muito claramente sobre isso.

Não queremos voltar à "normalidade" de desigualdade, exclusão e ataque aos nossos direitos que vivemos nos últimos quatro anos. De uma crise grave e aguda como a atual, deve emergir a compreensão de que a sociedade e o Estado devem priorizar a proteção social do seu povo, a preservação da vida, a valorização do trabalho e da democracia.

A classe trabalhadora não pode mais continuar pagando uma conta que não é dela. É hora de quem tudo produz exigir seus direitos e atacar os parasitas que enriquecem em meio a tragédias.

É possível manifestar-se sem colocar em risco a vida do nosso povo. Viva a classe trabalhadora, viva o povo brasileiro.

#FORABOLSONARO, Mourão e todas as suas políticas.

Eleições DIRETAS JÁ!

Stefanio Marques Teles é assessor do Sindicato dos metalúrgicos de BH/Contagem e região.

Edição: Elis Almeida