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A difícil hora de saber parar

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Nessa semana, Mouzar traz um causo desses um pouco vergonhoso de falar, mas quem nunca? - Foto: Thomas Picauly on Unsplash
O Mendes entrou já gritando: "sai uma cerveja e duas pingas..."

Bebendo umas e outras dentro de casa, tenho me lembrado de um amigo que era boa companhia nos botecos, o Mendes, um piauiense que foi meu colega de trabalho durante alguns anos.

Bom bebedor, bom papo, grande conhecedor de música popular brasileira das boas, ele era ótima companhia.

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Uma vez fui mandado para passar um mês e meio trabalhando em Pirassununga, no estado de São Paulo, e me ofereceram uma sala dentro da Associação Comercial, para usar nesse período. 

Junto à sala, tinha um salão cheio de prateleiras, todas elas cheias de garrafas de cachaça de marca que eu desconhecia. Eram raridades, que o colecionador, presidente da Associação Comercial, dizia serem ótimas.

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Um dia, chamei o zelador e propus:

-  A gente podia abrir uma garrafa dessas com muito cuidado, beber o conteúdo dela e colocar uma pinga comum no lugar. Depois tampamos direitinho e colocamos na prateleira de novo. O que acha?

Ele me respondeu:

-  Não vale a pena...

Perguntei por quê e ele explicou:

-  Teve um colega teu, um tal de Mendes, que ficou aqui uns meses, e já fez isso com tudo quanto é garrafa. Nem sei se ainda tem alguma com cachaça boa.

Fiquei surpreso. Tempos depois, encontrei o Mendes num bar na entrada da Cidade Universitária, em São Paulo, demos risada lembrando disso, conversamos bebericando cachaça e cerveja, até que o dono do bar disse que meia-noite era hora de fechar as portas. 

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Serviria só uma cerveja e uma cachaça pra cada um pra encerrar. Bebemos, fomos a um bar próximo, ele estava fechando também. Mas serviu uma cachaça pra cada um e uma cerveja...

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Fomos a outro bar. Mesma coisa. Uma dose para cada um e uma cerveja. Assim fomos “fechando” os botecos da região, até não ter mais nenhum funcionando, de madrugada. Mas vimos a uns 200 metros um estabelecimento com duas portas largas e luz acesa.

Oba!

Trançando as pernas, corremos para lá antes que fechassem. O Mendes entrou já gritando:

- Sai uma cerveja e duas pingas...

O rapaz atrás de um guichê falou:

- Ô, moço, aqui nóis só vende passagem de ônibus.

Era um ponto de parada de ônibus que iam para a região Sul.

 

Edição: Lucas Weber