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“Abraçar meus filhos após o trabalho é sempre carregado de medo e culpa”

Juliana Mittelbach, 38, é servidora do Hospital de Clínicas e chegou a contrair covid-19

Curitiba (PR) |
Juliana Mittelbach trabalha no setor de Quimioterapia de Alto Risco do Hospital de Clínicas (HC) do PR - Diagramação: Vanda Morais I Foto: Divulgação

Trabalhando no setor de Quimioterapia de Alto Risco do Hospital de Clínicas do Paraná, a enfermeira Juliana Mittelbach, 38 anos, contraiu Covid-19 no início da pandemia. Para ela, ficar longe da família foi a pior parte. “Foi muito difícil ficar 14 dias isolada e longe dos meus filhos,” diz. Ela mora com seu companheiro e o casal de filhos, de 9 e 7 anos.

Mesmo se recuperando e voltando às atividades, continua se prevenindo por causa da incerteza sobre a recontaminação. “No início, diziam que ao pegar ficava imune, depois, que seria possível. Tenho todo o cuidado com a minha família. Chego do plantão, tomo banho, lavo a roupa antes de abraçar meus filhos. Mas é sempre um processo carregado de medo e culpa”, diz Juliana, que trabalha como enfermeira desde 2005.

Diante das várias incertezas ainda sobre a pandemia, ela diz que são muitas as condições adversas no trabalho. E destaca como sua principal reivindicação que os profissionais da saúde recebessem pagamento por insalubridade. “Queríamos que todos os trabalhadores do hospital, pelo risco de contágio, recebessem insalubridade no grau máximo. Porém, a gestão não é sensível à nossa solicitação.”

Decidida a fazer enfermagem por gostar de cuidar do próximo em momento de fragilidade, Juliana diz que se preocupa também com a população mais carente. “Já temos dados informando que há aumento da letalidade do vírus entre as pessoas negras. Me preocupa a pauperização da população e as consequências futuras disso para o sistema de saúde. É a expressão evidente da necropolítica.”
 

Edição: Gabriel Carriconde