Comércio

Reabertura de bares e restaurantes deve agravar pandemia no Brasil, avalia médico

Para especialistas, medidas são irresponsáveis e agravarão a crise sanitária e a desigualdade no país

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Bares Rio
Bares da zona sul carioca na noite desta quinta-feira (2), primeiro dia de reabertura na capital - Reprodução

Imagens de pessoas sem máscaras e aglomerada em bares e restaurantes no Rio de Janeiro circularam nas redes sociais nos últimos dias e colocaram em cheque a decisão da reabertura desses comércios durante o pico da pandemia. O estado possui atualmente a terceira maior taxa de mortalidade do país, com 62 casos para cada 100 mil habitantes, segundo dados do Ministério da Saúde.

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Para o pneumologista Alberto Araújo, a decisão demonstra descaso com a população, pois a curva de infectados é ascendente e ainda não há segurança sanitária no país. “O que vai acabar acontecendo é que as pessoas vão difundir rapidamente o vírus e podem ter as formas mais graves, o que vai levar novamente ao aumento da taxa de ocupação de CT (Centro de Terapia Intensiva). Aí nós podemos chegar a uma situação limite em que os prefeitos e governadores tenham que fechar novamente as cidades e até eventualmente decretar o lockdown.”

Outra preocupação do especialista é com a difusão de informações desencontradas por parte do governo federal.

“A população está cansada, está exausta, principalmente porque não termos tido atitudes firmes de busca de proteção. Têm muitas pessoas que começam a achar que, ‘bom, se vetou do uso das máscaras nas lojas em comércio, eu não preciso mais usar'.”

A referência do veto ao uso de máscaras diz respeito a Lei 4.019, de 2020, que explicita o obrigatório do acessório em espaços públicos. Nos últimos dias, o presidente Bolsonaro (sem partido) aprovou a lei, mas vetou os artigos referentes ao uso de máscara em lojas, comércio e também presídios.

“A própria população está desinformada, em conflito consigo mesma, quando governantes sinalizam contra as evidências científicas. É lastimável esse comportamento. Eu diria para você que é um comportamento genocida”, afirma Araújo.

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Economia

Se a expectativa com a reabertura do comércio é a retomada da economia, os efeitos poderão gerar efeitos contrários. Segundo explica Juliana Furno, doutoranda em Desenvolvimento Econômico na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos efeitos pode ser o agravamento da crise econômica e a ampliação da desigualdade no país.

“Não é exclusividade dessa crise, na verdade, todas as crises têm essa tendência, de aumentar a desigualdade. Porque quem tem dinheiro, compra barato e quem não tem precisa vender barato para poder sobreviver e comer.”

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Em vez dos dispendiosos incentivos ao sistema financeiro e grandes empresas, como tem feito o governo de Jair Bolsonaro, durante a pandemia, uma das formas de evitar a reabertura do comércio no pico do contágio, segundo a pesquisadora, seria efetivar reais políticas de apoio aos trabalhadores. 

“Em todos os países que possibilitaram que empregadores fizessem acordo de redução de salários, o governo incrementou o restante do salário. Aqui, o governo vai dar uma parte do auxílio desemprego, ou seja, é injusto e é burro também, porque você tira dinheiro de circulação, reduz a base monetária salarial, dificulta ainda mais a retomada da economia”, conclui Furno.

 

Edição: Camila Maciel