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Artigo | Estratégia de desenvolvimento

Sem melhor distribuição de renda e respeito pela natureza não haverá paz no mundo e nem salvação

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
O neoliberalismo visa desmontar tudo que reverte em benefícios sociais e formas de remunerar o trabalho humano - Reprodução

Os governantes do Brasil após a segunda guerra mundial esforçaram-se para infraestruturas básicas para a expansão da produção industrial. Embora Getúlio Vargas tenha se esforçado em construir grandes rodovias asfaltadas, a exemplo da Rio-Bahia, muito ainda estava por ser feito.

O governador de Minas, Milton Campos (1947-1951) observava com espanto que a maior parte da energia elétrica era gerada por vapor de caldeiras aquecidas a lenha. Locomotivas ferroviárias e a navegação fluvial, tudo era a vapor. Só o estado de Minas consumia 11 milhões de metros cúbicos de lenha por ano. A ausência era quase total de rodovias asfaltadas.

Juscelino Kubistchek, tanto no governo de Minas quanto na presidência da República criou o plano conhecido como “Binômio Energia e Transporte”. Em 1964, tendo em vista as novas condições de infraestrutura, a ditadura militar seguiu implementando uma política de substituição das importações.

Os países mais desenvolvidos exigiam como vantagem, mão de obra barata, ausência de pressão de sindicatos, isenções de tributos, ausência de restrições a questões ambientais e ausência de confrontos étnicos. Para atender tais exigências o mais conveniente aos capitalistas era que fossem implantadas ditaduras nos países tidos à época como do terceiro mundo. A partir daí o FMI e BIRD passaram dominar e impor limites as políticas sociais do continente. Por isso, o resultado de crescimento do PIB beneficiou os capitais estrangeiros e nacionais, proporcionando concentração de renda, aumento da já enorme desigualdade social e danos ambientais.

Com a abertura democrática (década de 1980), veio à tona a existência de uma população ocupando vastas áreas de pobreza, analfabetismo, fome e carência de moradia. Os primeiros presidentes após o regime militar não puderam fechar os olhos às questões sociais.

Nos EUA, com Ronald Reagan e na Inglaterra com Margareth Thatcher, surgiam novas manobras para salvar o capital das maiores potências, a que se deu o nome de neoliberalismo. Essas diretrizes visavam desmontar tudo que revertesse em benefícios sociais e formas de remunerar o trabalho humano, que foram considerados os vilões da lucratividade das empresas. Daí as terceirizações, desregulamentação do trabalho, instabilidade no emprego, desemprego, redução de tributos e privatizações de empresas. Tudo isso contribuiu para piorar a distribuição de renda na população e o empobrecimento.

Dando um salto para a última década, vale mencionar que desde o fim de seu primeiro mandato (2013) a presidente Dilma Rousseff vinha sofrendo enorme pressão do empresariado e da imprensa para permitir as reformas neoliberais. Em função de sua resistência, acabou sendo deposta.

Os dois presidentes que a sucederam nada fizeram senão as reformas impostas pelo neoliberalismo. O resultado é o que se viu antes da pandemia do coronavírus: aumento da pobreza e do desemprego; endividamento das famílias; desindustrialização e diminuição do PIB; desvalorização da moeda nacional. Nesses quatro anos ocorreram os maiores desastres ambientais, em consequência da política e lucratividade das empresas.

Resta-nos esperar pelo fim da pandemia para ver se a nova guerra fria pode evoluir para um novo conserto das nações, no qual reconheçam que sem o trabalho humano com remuneração digna; sem melhor distribuição de renda e respeito pela natureza, não haverá paz no mundo e nem salvação.  

Antônio de Paiva Moura é docente aposentado do curso de bacharelado em História do Centro Universitário de Belo Horizonte (Unibh) e mestre em história pela PUC-RS.

Edição: Elis Almeida