Pernambuco

ESTATÍSTICA

Reabertura econômica e alta de casos no interior indicam outro pico de Covid-19 em PE

Comitê Científico do Consórcio Nordeste explica rota da doença no estado e propõe medidas de combate à nova onda

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Estudo aponta que flexibilização no Brasil até então foi executadas fora dos parâmetros da Organização Mundial da Saúde - Procon/Divulgação

O Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste divulgou na última semana o Boletim nº 09, que alerta os estados da região Nordeste para um possível efeito bumerangue. Apesar do número de casos nas capitais virem diminuindo, o comitê aponta um aumento no número de casos no interior de todos os estados da região, o que vem sendo chamado de fase de interiorização da doença. E o efeito bumerangue seria o aumento dos casos através de um retorno às metrópoles, ou seja, a possibilidade de um novo pico da doença.

“A interiorização do vírus pela malha ferroviária de Peque permitiu que você tivesse um espalhamento da Grande Recife até as áreas mais do interior, a gente tem várias evidências que indicam que isso ocorreu ao longo dos últimos meses e, por exemplo, Caruaru que é um grande alvo do tráfego rodoviário da Grande Recife é um dos lugares que a gente observou um crescimento bem grande no número de casos, mas também ao longo da BR-101 em direção à Paraíba ou em direção à Alagoas. E aí a gente já começa a ver, nas últimas semanas, casos aparecendo no centro do estado e no extremo oeste, em Serra Talhada,Petrolina, Águas Belas, Garanhuns, Palmares, Água Preta", explicou Miguel Nicolelis, neurocientista e coordenador do Comitê Científico do Consórcio do Nordeste, que conclui "Enfim, a gente começou a ver essa interiorização e agora a possibilidade de que os casos que foram para o interior, a medida que casos mais graves se desenvolvem, que eles possam voltar para a grande Recife em busca de serviços médicos mais especializados e leitos de UTI, que é o chamado efeito bumerangue que nós criamos".


Gráficos mostram crescimento rápido da doença após reabertura econômica / Consórcio Nordeste

Em Pernambuco, as maiores taxas de crescimento no número de casos estão no interior do estado, tendo os maiores picos, em 29 de junho, nos municípios de Cupira, Pesqueira, Petrolina, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama. Segundo o Boletim, o pico em Petrolina demonstra que a interiorização do coronavírus em Pernambuco chegou ao extremo oeste do estado e isso irá contribuir para um refluxo de casos graves para a Grande Recife de forma significativa.

A Universidade de Oxford publicou na última semana o relatório "Is Brazil ready to relax Covid-19 response policies?" (O Brasil está pronto para relaxar as medidas contra a Covid 19?), que avaliou que as medidas governamentais adotadas para a flexibilização no Brasil até então foram executadas fora dos parâmetros da Organização Mundial da Saúde. “No momento que isso ocorre, dependendo do grau da abertura, você se expõe a ter novos casos se desenvolvendo e novos picos aparecendo em diferentes regiões do estado. O Recife colheu bons resultados do 'lockdown' que fez da área Metropolitana, da Grande Recife, mas evidentemente a gente ainda não tem como cantar vitória ou achar que a batalha tá ganha, porque a gente vê com essa interiorização o aumento de riscos, mesmo para a área metropolitana”, afirmou Nicolelis, que exemplifica, “Mesmo em lugares que a gente não fala muito, como Jaboatão dos Guararapes. por exemplo, eu olho aqui no nosso mapa e vejo um grande número de casos e óbitos e realmente, quando você olha na curva, se vê um crescimento que ficou mais lento, graças ao ‘lockdown’, mas ainda está crescendo”.

O comitê vê com grande preocupação a proposta de ampliar-se o relaxamento do isolamento social na Grande Recife, sugerindo a continuidade do lockdown em Caruaru (o qual foi encerrado no último domingo) e que o município de Petrolina estude a possibilidade de fazer o mesmo, Faz recomendações quanto a criação de Brigadas Emergenciais de Saúde por todos os municípios do interior e da região metropolitana do Recife, a criação de barreiras sanitárias, o estabelecimento de potenciais rodízios ou bloqueios intermitentes durante a semana, bem como estabelecer urgentemente uma rotina de execução de inquéritos soroepidemiológicos por todo estado. "Nós vemos claramente que os estados que estão seguindo recomendações científicas chanceladas pelo comitê estão tendo resultados muito bons, então a gente sempre fica torcendo para que todos os gestores deem relevância e ouçam essas recomendações”, disse o coordenador do comitê.

Edição: Vanessa Gonzaga