Paraná

EDUCAÇÃO

“Universidade pegou esforço de professores e jogou no lixo”, diz demitido da Positivo

O Grupo Cruzeiro do Sul Educacional comprou a UP no final de 2019

Curitiba (PR) |
Cerca de 160 professores foram demitidos da universidade - Foto: Divulgação I Diagramação: Vanda Morais

“A gente estava envolvido pensando no aluno, na disciplina, em projeto de pesquisa, em produção acadêmica. E nada disso importa. A universidade pegou todo esse esforço e pôs no lixo”. A afirmação é de um dos 160 professores demitidos pela Universidade Positivo (UP) na última semana.

Preferindo manter a identidade preservada, o professor conta que trabalhava na instituição há mais de um ano, com aulas na graduação e no mestrado. O desligamento foi informado pela coordenação de sua área, em reunião que durou alguns minutos, na quinta (16), um dia após ter lançado as notas finais para fechamento do semestre.

A justificativa para as demissões em massa foi a crise econômica causada pela pandemia de coronavírus. “Só que a gente não sabe se realmente é uma crise ou se já era uma postura da Cruzeiro do Sul, porque tem essa fama de querer migrar tudo para o EaD [Ensino a Distância]”, conta a professora.

O Grupo Cruzeiro do Sul Educacional comprou a UP no final de 2019. Além dessa universidade, o grupo tem ainda, na sua “carteira de investimentos”, outras 12 instituições de ensino superior e colégios particulares de ensino infantil, fundamental, médio e técnico. Em release divulgado à imprensa em junho, havia a informação de que a Positivo registrou aumento de 68% em matrículas para cursos EaD ou semi-presenciais entre março e maio. E,
ainda, lançou 50 novos cursos de graduação a distância.

Em abril deste ano, a UP iniciou as atividades de seu polo de Ensino a Distância em Takaoka, no Japão. Para Paula Cozero, advogada, professora e dirigente do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpes), esses grandes grupos da educação particular têm implementado uma “lógica muito mais mercadológica” da educação, “tornando mais patente a questão da educação como mercadoria, o que implica um desmonte do próprio ensino e da qualidade da educação”.

Após o fechamento da Edição 176 da edição do Brasil de Paraná, a Universidade Positivo enviou nota explicativa à reportagem. Abaixo a íntegra:

"Justamente no momento da incorporação e integração da Universidade Positivo à Cruzeiro do Sul Educacional, o agravamento e prolongamento da crise econômica, somados às incertezas quanto ao próximo semestre, levaram o grupo a adotar uma adaptação de custos, inclusive e inevitavelmente de pessoal, de modo a manter e preservar minimamente a saúde financeira, a qualidade de sua operação e a pontualidade dos seus compromissos, assim como – e principalmente – os milhares de empregos que continuarão a ser gerados em um futuro que se espera próximo e melhor.

A Cruzeiro do Sul Educacional reconhece e agradece a valiosa contribuição dos colaboradores que estão, neste momento difícil para todos, sendo desligados. Ao mesmo tempo, tem a certeza de que continuará a desenvolver seu projeto nacional de qualidade com ainda mais afinco, assim como tem demonstrado ao longo dos últimos anos melhorando, sem exceção, os indicadores acadêmicos oficiais de todas as instituições de ensino incorporadas. Que este momento excepcional seja breve e que a retomada seja vigorosa, bem como demande um número muito maior de contratações.

Em relação ao questionamento de mudança na matriz curricular, a Instituição afirma que apesar da Portaria MEC 2.117/2019 autorizar as Instituições de Ensino Superior (IES) a ampliar para até 40% a carga horária de disciplinas on-line em determinados cursos presenciais de graduação, os cursos da Universidade Positivo seguem com, no máximo, 20% de disciplinas on-line, conforme matriz curricular vigente".

Edição: Gabriel Carriconde