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O verdadeiro mal da economia brasileira tem nome: o pão-duro

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Nesta semana, Mouzar Benedito revela o tipo de pessoa que ele mais tem desprezo - Foto: Paweł Czerwiński/Unsplash
Quando criança, tinha na cidade um velho muito rico que o neto dele mesmo gozava por seu pão-durismo

Pão-duro é, e sempre foi, um tipo de gente que me incomoda. Não gosto de quem tem dinheiro e passa necessidades porque quer acumular a grana.

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Como sempre falo mal de pão-duro, e já falei desse tipo de gente aqui, não sei se vou repetir alguma coisa.

Quando criança, tinha na cidade um velho muito rico que um neto dele mesmo gozava por seu "pão-durismo". Em todas as refeições, almoço e janta, inclusive aos domingos, a comida era feijão com farinha de milho e chuchu ou abóbora.

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Não é que não gostava de outras coisas. Quando comia na casa dos outros mandava ver nas carnes, que apreciava muito.

Procurei saber porque era tão pão-duro.

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Soube, então, que ele era italiano, veio para o Brasil ainda menor de idade, trabalhar na lavoura de café, substituindo mão-de-obra escrava.

Como muitos imigrantes, queria enriquecer, superar a pobreza, e fazia de tudo para isso. Então só comia coisas que eram praticamente de graça na região. No caso, feijão, farinha de milho e abóbora ou chuchu. Arroz era caro para ele.

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Depois de um ano, com o dinheiro acumulado, comprou um pedacinho de terra. Aí trabalhava de segunda a sábado para o patrão, e no domingo na terrinha dele, iniciando um cafezal.

E continuava não gastando com comida. No ano seguinte, comprou mais um pedacinho de terra, e assim foi indo. Quando seu cafezal começou a produzir, passou a ganhar mais dinheiro e a comprar mais terras. Acumular dinheiro e terras tornou-se como um vício. Tornou-se um grande fazendeiro.

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Mas continuou com o hábito besta de economizar na comida. Na cabeça dele não passava a ideia de gastar com coisas que dão prazer.

Superou a pobreza, ficou rico, mas viveu como miserável. Os herdeiros é que viveram bem com a fortuna deixada por ele.

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Outro velho rico e pão-duro eu conheci numa pequena cidade do litoral paulista. Nessa cidade, os mendigos costumavam ir de casa em casa, pedindo esmola. E pulavam a casa dele, pois sabiam que dali não sairia nada.

Um dia, chegou um mendigo de fora na cidade e também foi de porta em porta pedindo esmola.

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Como não conhecia o tal sujeito, bateu na porta da casa dele. O velho gritou lá de dentro:

— Quem é?

O mendigo falou com voz sofrida:

— Esmola...

O velho gritou de novo:

— Pode pôr debaixo da porta.

Edição: Lucas Weber