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Nhacanhá com certeza daria aulas de filosofia a Sócrates

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Nesta semana, Mouzar Benedito relembra histórias dos amigos "peladeiros"
Nesta semana, Mouzar Benedito relembra histórias dos amigos "peladeiros" - Divulgação - Liga de Futebol do Guarujá
Ele ficou petecando na minha frente... Petecou, eu quebro!

A volta do campeonato brasileiro de futebol não me pareceu muito animada. Eu não iria ao estádio para ver os jogos ruins que têm acontecido, mesmo que os jogos fossem abertos ao público. Sem público, só podem ser vistos pela televisão, e assim mesmo, não consegui aguentar nenhum. Cada vez que tentei, mudei de canal bem depressa, lembrando de uns peladeiros amigos.

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:: Mais Mouzar | Se eu tivesse guardado meu umbigo talvez minha vida teria sido outra :: 

Um deles era o Barroso. Esse não era seu nome, era apelido, porque o sujeito considerado mais feio da cidade se chamava Barroso. Era calmo e nunca ligou pra gozações como essa. Mas quando entrava em campo virava uma fera. Jogava na lateral direita. Um dia teve que marcar um ponta esquerda driblador e gozador. O ponta ficou fazendo embaixada na frente dele, com intenção de lhe dar um chapéu, mas o Barroso nem foi na bola, foi direto na canela do adversário. E justificou:

-  Ele ficou petecando na minha frente... Petecou, eu quebro!

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O Nicola, com miopia fortíssima, com óculos enxergava pouco mais de um metro à frente. Entrou em campo sem óculos. Aí não via quase nada. Mal tocava na bola, ela é que batia nele de vez em quando.  E quando alguém se aproximava, ele perguntava:

-  Você é do meu time ou é adversário?

E tinha o Eduardo, que teve um acidente, bateu com a cabeça no chão, e depois de recuperado, ficou com um problema. Tinha batido o lado direito da cabeça no chão, e como um lado do cérebro controla os membros do lado oposto, tinha dificuldade para movimentar braço e perna do lado esquerdo. Por isso, durante os jogos, corria com a perna direita e andava com a esquerda, era muito esquisito.

:: Mais Mouzar | Se eu tivesse guardado meu umbigo talvez minha vida teria sido outra :: 

Para finalizar, tinha um amigo apelidado Nhacanhá. Seus colegas de trabalho resolveram fazer um campeonato interno de futebol, e pelo seu porte atlético, pinta de goleador, todas as equipes queriam o Nhacanhá para jogar no ataque. 

Nunca tinham visto o cara jogar, mas acreditavam que ele era um craque. No dia do primeiro jogo, o Nhacanhá entrou em campo com chuteira nova, calção novo, meia nova... 

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Se reparassem bem, poderiam desconfiar de alguma coisa, pois se tivesse o hábito de jogar futebol, tinha chuteira usada, calção usado, meia usada…

Escalado como centroavante, ele chegou lá, onde a bola já o esperava, para início à partida. Pegou a “pelota”, olhou para ela com ar de curiosidade e, depois de alguns segundos de contemplação, gozador, ele disse para desespero dos seus colegas de equipe:

-  Então isso é que é bola!...

Edição: Douglas Matos