Pernambuco

ECONOMIA

Aumento nos preço dos alimentos tem impactado no prato e no bolso dos pernambucanos

Preço de alimentos como o arroz é controlado pelo agronegócio, mas a agricultura familiar optou por manter preços baixos

Brasil de Fato | Recife, PE |

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IPCA registra aumento no grupo de alimentos e bebidas - Banco de Imagens

O aumento no preço dos produtos alimentícios vem impactando diretamente na vida do povo pernambucano. Entre os itens que tiveram um maior aumento foi o arroz, cujo valor da saca  chegou a ultrapassar R$100, o que representa um aumento de 120%, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP). Em contrapartida, a agricultura familiar vem optando por não aderir aos aumentos na mesma proporção do agronegócio, o que tem aumentado a procura pelos alimentos produzidos por esses produtores.

“O arroz é uma commodity, ou seja, é um item que é negociado pela bolsa de valores e é demandado pelo mundo todo. O Brasil tem a produção do arroz e com o dólar muito elevado, então o nosso produto fica barato. Isso é um incentivo para o produtor, porque ele ganha mais vendendo para fora do que vendendo para dentro; mas isso desabastece o mercado interno para vender para outros países”, explicou Rafael Ramos, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE).

Ele explica que essa não é a regra geral e que outros fatores podem influenciar a alta “Isso não vem acontecendo só com o arroz, mas também com outros itens que são cotados em dólar e são commodities. Já o feijão não é uma commodity cotada em dólar, é realmente hábito do brasileiro, do nosso prato tradicional. Mas o feijão está ligado a questões de safra, então ocorreu provavelmente uma questão de safra que puxa o preço para cima”, conclui.

Enquanto isso, o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem mantido os preços da produção do arroz visando o benefício do consumidor, o que tem feito a procura do produto oriundo da reforma agrária. “Para nós é uma questão política neste momento. Os armazéns entendem que é importante se preocupar com o acesso da população do meio urbano e que esse alimento chegue em condições de ser comercializado” , acredita Ramos Figueiredo, coordenador do Armazém do Campo Recife. “É uma decisão política do movimento de não aderir a esse aumento exagerado nos preços dos alimentos, por isso que a gente vai manter os preços”, ressaltou.

No entanto, o consumidor percebe que o aumento não está acontecendo apenas no preço do arroz e vem tentando driblar a alta dos preços substituindo o supermercado de varejo pelo de atacado e reduzindo o consumo dos produtos que tiveram um maior aumento. “A gente está indo para esses supermercados para não sentir tanto impacto, porque esses de varejo não dá não. Também estou tendo que diminuir mais essas coisas para dar o dinheiro até o fim do mês”, afirmou a contadora Maria da Paz Vieira. “Dizem que a inflação não aumentou, mas os preços dos alimentos estão aumentando esses dias, porque tem coisas que aumentou uns 50%. Feijão mesmo que antes da pandemia era R$4 e pouco, agora já está R$8 e pouco”, questionou.

Para o economista, o fato de haver uma diminuição nos preços de algumas mercadorias, vem camuflando a inflação no setor de alimentos. “A gente está passando por uma inflação forte no grupo de alimentação e bebidas, porque quando a gente pega o índice geral da inflação, que é o IPCA, todos os outros grupos , diante da pandemia, estão com preços menores, não estão aquecidos, então eles estão anulando o preço do grupo de alimentação e bebidas”, analisou o economista.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é composto por nove grupos: transportes, alimentação e bebidas, alimentação, habitação, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, comunicação, educação, vestuário e artigos de residência. “De maneira geral, nós temos um IPCA no índice de 2%, ou seja, ele não está refletindo a alimentação na alimentação que geralmente atinge as camadas mais pobres. Então, em termos de inflação geral, a percepção das pessoas não está sendo refletida no número da inflação”, concluiu
 

Edição: Vanessa Gonzaga