Rio Grande do Sul

DEBATE

Fundação Maurício Grabois promove debate sobre a Revolução de 1930

"O projeto de desenvolvimento criado na Revolução de 1930 deve ser retomado", avaliam painelistas

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Entidades discutem projeto de nação para o Brasil em 1930 e na atualidade - Beto Rivera

A Revolução de 1930 foi a primeira insurreição que teve caráter nacional e foi vitoriosa. A história do Brasil é cheia de insurreições que além de serem localizadas foram derrotadas pelo governo central. A afirmação é do economista Pedro Dutra Fonseca na palestra de abertura do debate “Projeto de Nação na Revolução de 30 e nos dias de hoje”, promovido pela Fundação Maurício Grabois, seção do Rio Grande do Sul, no sábado (3), data em que o evento comemorou seus 90 anos. 

Fonseca lembrou que até hoje se cometem muitas injustiças contra aquele fato histórico que, para ele, foi uma verdadeira ruptura na história do País. “Antes de 1930 tínhamos a velha República com diversos setores exportadores, cada um se relacionando de maneira independente com as matrizes coloniais. Após 1930 iniciou-se um projeto nacional desenvolvimentista, baseado principalmente nas substituições de importações, mas que levou o Brasil a um crescimento econômico nunca visto e que perdurou até o final do século passado.

Direitos dos trabalhadores

Os direitos dos trabalhadores também foram analisados durante o debate e coube ao desembargador Luiz Alberto de Vargas, do TRT 4, conduzir a palestra. Ele lembrou que se criou uma falsa história de que a Consolidação das Leis Trabalhistas foram inspiradas na Carta del Lavoro, de Benito Mussolini e, portanto, teria uma origem fascista.

Segundo ele, já existem estudos atuais que acabaram com essa mistificação, comprovando que Getúlio Vargas inspirou-se na social democracia alemã, da República de Weimar. Ele lembrou ainda que estas conquistas foram das lutas dos trabalhadores que iniciaram na década anterior e acabaram tornando-se vitoriosas. A unicidade sindical, segundo Vargas, é o centro dessa crítica feita até mesmo por setores da esquerda, porém lembrou que a “liberdade sindical" preconizada até agora é uma proposta do liberalismo.

Um projeto atual

O presidente nacional da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, que dissertou sobre Dependência Nacional e Desenvolvimento, disse que o pensamento nacional-desenvolvimentista tem sua atualidade no Brasil, e precisa ser recuperado e aplicado na contemporaneidade. Ele lembrou que desde a década de 1980 a relação de dependência do Brasil se agravou e o país embotou o seu crescimento para atender aos credores internacionais externos e aos rentistas financeiros internos. “E isto tem resultado na drenagem de grandes recursos para o exterior, na superexploração da força de trabalho e no consequente estreitamento do mercado interno.

Conforme Rabelo, nosso país tornou-se uma nação na periferia (semiperiferia) do sistema internacional, submetida à dominação da hegemonia imperialista na forma de neocolonialismo financeiro-econômico-tecnológico-cultural. Que essa hegemonia financeira impõe uma ordem econômica neoliberal e que tem seu apoio em forças dominantes internas. “É preciso se livrar dessa ampla dominação sobre a nação, que agrava a dependência ou fica comprometido o desenvolvimento nacional, o avanço da democracia e do progresso social."

Lembrou ainda que desde 2008, faz parte do Programa do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a recuperação, elaboração e atualização do ideário nacional-desenvolvimentista, consignado na proposta e na defesa de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (NPND). Este Projeto é compreendido no Programa como o caminho brasileiro para o socialismo.

O debate que durou cerca de 2h30min, foi organizado pelo historiador e presidente da Regional Sul da Fundação Maurício Grabois, Raul Carrion. A apresentação foi do professor José Vicente Tavares dos Santos, diretor do Instituto Latino Americano de Estudos Avançados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e conduzido pela historiadora e professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Gláucia Vieira Ramos Konrad que apresentou os palestrantes e conduziu os debates. Cerca de 400 internautas seguiram a apresentação através da TV Grabois, mas muitos outros devem ter se juntado nas transmissões cruzadas das outras entidades copromotoras.

Foram copromotoras as seguintes entidades: ILEA/UFRGS - IFHC/UFRGS - FCE/UFRGS - IHGRGS - CEBRAPAZ - SOCECON - SINDECON - EFP CASTRO ALVES (UJS) - AJD - ADJC - ARI - MEMORIAL DA ALERGS.

Para quem quiser ver em detalhes segue o vídeo.

 

 

 

 

Edição: Katia Marko