Paraíba

PATRIMÔNIO IMATERIAL

Inventário Cultural de Conde é instrumento pioneiro na Paraíba

Catálogo já reuniu cerca de 210 agentes e bens culturais

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Ciranda da Alegria, Assentamento Dona Antônia - Foto: Arquivo - Foto

Benzadeiras, parteiras, rezadeiras, mestras/es do coco. Plantas medicinais, culinária, religião afro-indígena. Barqueata do Nosso Senhor do Bonfim levando o santo de Pitimbu à Jacumã. O Inventário Cultural da cidade de Conde-PB é uma enciclopédia cultural que aflora um pedacinho da frondosa alma brasileira. 


Dona Maria Parteira/ Foto: Arquivo

Segundo Jéssyca Marins, antropóloga atuante no inventário - juntamente com outro antropólogo, Lucas Peregrino - os inventários são instrumentos e metodologias utilizadas nas políticas de Patrimônio Cultural para identificar, documentar e mapear os bens culturais.


Celebração Jurema Sagrada, Falésias Tambaba /  Foto: Arquivo

Rejane Nóbrega, assessora Especial de Cultura da Prefeitura Municipal de Conde, lembra que o escritor Mário de Andrade, ainda na época das Missões Folclóricas, já desejava fazer um mapeamento, uma cartografia da diversidade cultural brasileira. “A Cartografia da Cultura Brasileira é a meta 3 do Plano Nacional de Cultura. A gente tem entendimento de que qualquer política de cultura que se preza, tem que saber para quem vai. O inventário tem o propósito de estabelecer um diálogo vivo com os agentes culturais do território e os bens culturais”.

Ela conta que a decisão do Inventário partiu da Prefeita Márcia Lucena, gestora progressista e de grande sensibilidade com a memória coletiva, até mesmo por ser educadora. 


Grupo SV (Sinceridade na Veia) - hip hop - Assentamento D. Antônia / Foto: Arquivo

Na primeira etapa de implementação do Inventário, a coordenação de Cultura realizou uma capacitação com as/os professoras, as 9ª séries e o EJA da Rede Municipal, em 2018, para realizar pesquisas sobre os bens culturais de Conde. 

“A Pousada (bairro) pesquisou sobre uma casa de farinha local, a Escola Manoel Paulino, do Assentamento Dona Antônia, pesquisou sobre cultura alimentar, então as crianças fizeram o levantamento e culminou em um Seminário em que elas apresentaram a pesquisa para o Inventário”. A pesquisa também contou com um mapeamento sobre pessoas que tinham perfil cultural, feito anteriormente pelo Orçamento Democratico do Município.

Inventários Participativos

O inventário é uma ferramenta que serve para identificar a diversidade cultural existente no município e compreender quais as necessidades dessas referências culturais. Para o município de Conde foi utilizada a metodologia dos Inventários Participativos, que conta com cinco categorias: celebrações formas de expressão, saberes e ofícios, objetos, lugares e edificações.


Mãe Gisélia - Terreiro inventariado /  Foto: Arquivo

“Na experiência de Conde, vimos a necessidade de inserir a categoria ‘pessoas’ porque existem pessoas que são referência na comunidade, não apenas pelo seu saber, como parteiras, rezadeiras ou mestre de coco, mas a pessoa em si já é uma referência. Então substituímos objetos por pessoas. E a categoria ‘objeto’ está diluída nas outras”, detalha Jéssyca Marins.

Estratégia pioneira no estado

O Conde desponta como município pioneiro na realização de Inventário Cultural, na Paraíba. Até agora, foram identificados no território cerca de 210 bens culturais entre celebrações e formas de expressão, pessoas, lugares e saberes. 

“O trabalho em Conde apenas começou. Tendo em vista que a cultura é dinâmica, achamos que é humanamente impossível identificar todas as referências culturais de um município rico e extenso como aquele”, afirma Jéssyca.

Rejane salienta que o Inventário é respaldado num conceito ampliado de cultura: “A gente não quer só inventariar expressões da cultura popular ou arte consagradas, queremos incluir toda a cultura, numa perspectiva ampla - benzedeiras, artesão, tocadores, músicos, artistas plásticos, pessoal do hip hop. Então tá todo mundo dentro do inventário”, conclui ela.


Casa de Garrafa Peti - seu Adalberto, mestre construtor e raizeiro/  Foto: Arquivo

A política pública é responsabilidade do estado, mas tem que ser cobrada: “Quando um povo tem dimensão, reconhece e identifica as suas referências culturais, a sua história, o seu valor, o povo se fortalece com isso. Reconhece que suas identidades e suas referências culturais são os maiores bens de uma cidade e que merecem ser salvaguardados. Não é jogar essa responsabilidade apenas para que os grupos mantenham e preservem suas culturas, mas compreender que existe também uma obrigação do Estado”, destaca Jéssyca Marins.

Frutos constantes

Rejane Nóbrega conta que o cadastro para a Lei Aldir Blanc foi facilitado pelo Inventário. A pesquisa, no entanto, foi interrompida por conta da pandemia. “Ainda prosseguimos por telefone, paramos, e agora retomamos com todos os cuidados para dar uma conclusão para esta etapa”, conclui ela.

O processo do Inventário é constante. “Ainda falta muita gente entrar no Inventário Participativo. É necessário a colaboração da população, dos agentes culturais que vão estar indicando outros agentes culturais das suas comunidades para serem pesquisados”, reitera Rejane.

A meta agora é que em dezembro vai ser lançado o ebook do Inventário Cultural de Conde, e em seguida, será constituído um Conselho de Política Cultural Municipal.

Para ter acesso aos diversos bens culturais inventariados até o momento acesse o endereço: https://conde.pb.gov.br/public/portal/publicacoes/inventario-cultural#1

 

 

Edição: Maria Franco