Minas Gerais

Coluna

Os negros nas obras de modernistas

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jornal Leite Criolo
Em 1929, com a colaboração de Aquiles Vivaqua e Guilhermino César, João Dornas criou e editou o periódico Leite Criôlo - Créditos da foto: Romulo Fialdini
Modernistas mineiros reconheceram o negro na formação da cultura brasileira

O autor mineiro que mais se situou na defesa da negritude foi João Dornas Filho, poeta, historiador e contista. Teve diversos livros publicados como: Itaúna, contribuição para a história do município; Os Andradas na história do Brasil (1937); Silva Jardim (1937); O padroado e a Igreja Brasileira (1938), A escravidão no Brasil (1939); Apontamentos à história da República (1940); Bagana apagada, contos (1941); A influência social do negro brasileiro (1942); Júlio Ribeiro (1945) / Eça e Camilo (1945).

Juntamente com Carlos Drummond de Andrade, João Alphonsus, Emílio Moura e Pedro Nava participou de “A Revista”, grupo que introduziu o modernismo em Minas. Em 1929, com a colaboração de Aquiles Vivaqua e Guilhermino César, João Dornas criou e editou o periódico Leite Criôlo. 

O que marca ou que caracteriza a intelectualidade modernista mineira não é o radicalismo destruidor, mas a busca de conciliação com suas origens e com sua terra. A tradição repensada, trabalhada de forma racional. O grupo se coloca no contraponto do tradicionalismo ou do conservadorismo. Contra a mentalidade colonialista e o nacionalismo ufanista.

Atuou contra o mito fundador do verdeamarelismo ufanista reforçado pela edição do livro de Afonso Celso “Porque me ufano de meu pais”, em 1900, na comemoração dos 400 da descoberta do Brasil. Afonso Celso justifica sua paixão verde amarela com dezessete motivos:

A grandiosidade do território; as belezas naturais; riquezas naturais do subsolo e da agricultura; vegetais raros; variedade climática; ausência de calamidades; formação étnica da população, com exaltação do índio, e a docilidade do negro, embranquecido ao assimilar a cultura européia; nobres predicados do caráter nacional, como a afeição à ordem, à paz, ao melhoramento e ao estremo espírito de caridade; o país nunca foi vencido em guerras.

Observa-se que há uma predileção pelo indígena na formação da população brasileira, desde os tempos coloniais. O casamento entre brancos e negros chegou ser proibido, permitindo, contudo, o casamento de índios com brancos. Quase toda família tinha um caso da avó ou bisavó índia que havia sido pega no laço para se casar.

Os nomes de lugares, vilas e cidades; de acidentes geográficos como rios e relevos, com nomes oriundos da língua tupi-guarani. Na literatura, na dramaturgia e nas artes plásticas o ameríndio tinha sempre um bom lugar. Além disso, escritores e historiadores acadêmicos conservadores tinham como parâmetro em suas obras, o referencial da cultura greco-romano, como Luiz Camões em “Os Lusíadas”, publicado em 1572.

O que a intelectualidade modernista viu foi a necessidade de reconhecer e contemplar o negro como elemento formador da cultura brasileira e a cultura popular tradicional legada por outras etnias. O trabalho artístico de negros e mulatos na arquitetura, nas artes plásticas e na música passou a ser reconhecido e valorizado.

É nesse contexto que surge Aires da Mata Machado com O negro e o garimpo em Minas Gerais (1929); João Dornas Filho com o periódico Leite Criôlo (1929) e o livro A influência social do negro; Carlos Drummond de Andrade, em Alguma poesia, no qual se opõe ao idealismo clássico e fala do cotidiano, da família e da vida interiorana mineira.      

Antônio de Paiva Moura é docente aposentado do curso de bacharelado em História do Centro Universitário de Belo Horizonte (Unibh) e mestre em história pela PUC-RS.


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Edição: Elis Almeida