Minas Gerais

POLITIZAÇÃO

Desafio central de Marília em Contagem é atender às demandas com participação popular

Movimentos defendem a combinação entre pautas municipais e a luta política nacional

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
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Na terça-feira (19), o governo municipal iniciou o processo de vacinação, no Complexo Hospitalar de Contagem, imunizando 11 profissionais de saúde - Créditos: Comunicação Marília Campos

Eleita pelo voto popular para seu terceiro mandato como prefeita da terceira cidade mais populosa do estado, Marília Campos (PT) encontra agora um cenário mais complexo do que na época em que assumiu pela primeira vez, em 2005. Contagem está mais dividida politicamente, com forte presença do conservadorismo, que mostrou as garras nas eleições de 2020, enquanto o país atravessa uma crise econômica e social agravada pela pandemia do novo coronavírus.

Ao fim de sua primeira experiência na prefeitura, Marília entregou o cargo com mais 80% de aprovação, após reduzir a dívida do município de 125% para 46% da receita corrente líquida, com o pagamento de parte da dívida, renegociações e um aumento real de 74% nas receitas. Mais de 72 mil empregos foram gerados nos dois mandatos, sendo a maioria com carteira assinada. Entre 2005 e 2012, o PIB do município cresceu acima das médias de Minas e do Brasil. Os dados acima e outros foram divulgados, em maio de 2020, em um diagnóstico da cidade feito pelo economista José Prata.

No mesmo estudo, o economista reconhece o papel dos governos federais no desempenho da gestão municipal. Ele lembra, por exemplo, que, nos últimos anos, a União tem reduzido sua participação no custeio da saúde, sobrecarregando os municípios. Prata também recorda que, com os presidentes Lula e Dilma (de 2003 a 2016), Contagem teve saldo positivo de 32.015 empregos gerados no comércio, 17.442 nos serviços e 11.456 na indústria e construção civil; a partir do golpe de 2016, por outro lado, houve perda de 1.200 empregos no comércio e 2.697 na indústria.

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Prioridades no início

Entre as prioridades para o início do governo, Marília tem apontado o enfrentamento aos problemas com as fortes chuvas. Na última sexta-feira (5), um temporal causou alagamentos em diversos pontos da cidade atingindo cerca de 250 famílias. Além de ações de socorro a essas pessoas, o governo também prevê a concretização de obras de contenção em locais críticos, como no Córrego Ferrugem, já em andamento desde o último governo, e o Córrego Riacho das Pedras, com uma obra iniciada há cerca de 10 anos e que ainda não foi concluída.

Outro desafio é enfrentar a pandemia do novo coronavírus. Na terça-feira (19), o governo municipal iniciou o processo de vacinação, no Complexo Hospitalar de Contagem, imunizando 11 profissionais de saúde. No dia 12, por meio de um decreto, a Prefeitura lançou a campanha de conscientização Pacto pela Vida. Por outro lado, optou por não fechar o comércio.

É necessário enfrentar a extrema direita a partir do território desde os primeiros dias

Outra demanda que deve entrar na agenda do governo é a convocação de uma Conferência Municipal de Política Urbana para revisar o Plano Diretor (Lei Complementar 248/2018). O Plano abre caminho para a urbanização da zona rural em Várzea das Flores, uma importante área de abastecimento de água para toda a região metropolitana. Estudos apontam que, se o plano não for revisto, seguindo a tendência atual, o reservatório de Várzea das Flores pode perder seu espelho d’água em 33 anos ou mesmo ficar assoreado em duas décadas.

Conciliação x participação e comunicação

Desde as eleições, Marília tem apostado em sua experiência bem sucedida na gestão, como também no diálogo. "Prefeituras não fazem oposição a governos estadual e federal. Se for eleita, vou dialogar com Zema e Bolsonaro para apresentar projetos para a cidade", disse, em entrevista ao Brasil de Fato no segundo turno.

Porém, os tempos são outros. Zema e Bolsonaro estão longe de serem governantes dispostos a dialogar com uma prefeitura de esquerda. Quanto à pandemia, o presidente insiste em terceirizar as responsabilidades e não dá sinais de que pretenda mudar sua política. Tampouco admite colaborar com outros governos, especialmente em se tratando do PT.

Para movimentos populares que participaram da eleição de Marília, o maior de todos os desafios é enfrentar o conservadorismo na cidade. A professora Adriana Souza, da Frente Brasil Popular, destaca a necessidade de combinar as pautas municipais com a luta política nacional e que se faça o debate com a população contagense, demarcando as diferenças entre os projetos em disputa. Por isso, ela defende que os movimentos populares mantenham viva a campanha "Fora Bolsonaro!".

Prefeitura vai convocar uma Conferência Municipal de Política Urbana para revisar o Plano Diretor

"Saímos de uma eleição com uma cidade muito dividida, uma vitória politicamente muito grande, mas muito apertada do ponto de vista numérico. Sabemos que a luta política na cidade vai se aprofundar. É necessário enfrentar a extrema direita a partir do território desde os primeiros dias", acrescenta.

A vereadora Moara Saboia concorda que é preciso manter a mobilização para além das eleições e propõe o recurso aos meios de comunicação. "Não dá para querer enfrentar o conservadorismo, o Bolsonarismo, o neofascismo, só no período eleitoral. Eles se articulam de maneira muito forte durante todo o ano, principalmente usando a comunicação", argumenta.

Tanto a parlamentar quanto a militante da Frente Brasil Popular entendem que a participação popular, outra prioridade eleita por Marília, deve ser a marca de todas as ações. No último ano, a Frente Brasil Popular realizou um Congresso do Povo na cidade, com a participação de 12 organizações, entre as quais o coletivo feminista Com Elas e o movimento SOS Vargem das Flores. Saíram do Congresso propostas que foram apresentadas à prefeita no final de 2020.

"Para enfrentar a pandemia, defendemos que se converse com a população, se envolva as pessoas. Do jeito que as coisas estão, o poder público não consegue fazer e resolver nada sozinho. Então, o principal é radicalizar a democracia. O que a gente busca é que a população organizada seja ouvida", afirma Adriana Souza.

Edição: Elis Almeida