Minas Gerais

Coluna

Solidariedade nas quebradas

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"Nunca colocou aquela frase nefasta no seu boteco: Aqui não vendemos fiado! Era o contrário: Aqui você é sempre bem-vindo, com ou sem dinheiro!" - Créditos da foto: Reprodução
Pedro Paulo morreu sozinho, mas com um coração de gigante

O Brasil chegou a lamentável marca de 216 mil mortes por covid-19, um recorde negativo para qualquer país. A pandemia aprofundou a crise econômica. 60% das pessoas que pegaram o auxílio emergencial, dos 63 milhões contemplados pelo programa, compraram prioritariamente comida. Aqui é que entra a grande história de Pedro Paulo. Ele morreu sozinho, mas com um coração de gigante. Vivia numa caxanga, sinônimo de barraco aqui nas quebradas.

Ele andava meio deprimido porque havia perdido seu boteco, que era seu ganha-pão. A crise da pandemia pegou em cheio sua clientela. Viu também amigos ficando desempregados e trocando seus barracos pelas ruas e viadutos.

Gente boa, era muito querido por todo mundo e respeitado. Patrocinava o time de futsal da molecada com rango, passagem e o jogo de camisa. E uma graninha de vez em quando. Na pandemia articulou uma rede de solidariedade que arrecadava cestas básicas para os desempregados. Uma parceria com a CUFA.

Os amigos e frequentadores do boteco nunca o viram triste. Sempre sorridente, falava do sertão de Minas com muito amor e saudade. Seu caderno de vender fiado sempre estava aberto a todo mundo e a todo momento. Nunca colocou aquela frase nefasta no seu boteco: Aqui não vendemos fiado! Era o contrário: Aqui você é sempre bem-vindo, com ou sem dinheiro!

Certa vez, um famoso caloteiro do bairro foi comprar fiado com o Pedro Paulo, e ele vendeu sem pestanejar. 

Um amigo ficou encasquetado com aquilo e perguntou: 

- Colé, Pedrão? 

-  O que, irmão?

- Esse cara não paga ninguém, porra!

- Eu sei, karai!

- A mãe dele tá doente grave, meu véi! 

- Ele vai pagar!

Esse era Pedro Paulo.

Seu último abraço foi no seu cachorro vira-lata, o Periódico.

Até hoje nunca mais latiu por essas redondezas. 

O boteco continua fechado e nossas resenhas caladas.

Saudades imensas dessa grande truta sangue B pra caramba. A camisa do América mineiro foi no caixão como seu último pedido. Cantamos a música que ele mais gostava do Legião Urbana: É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar pra pensar.......

Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte

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Edição: Elis Almeida